O conto “A menina de lá”, de Guimarães Rosa, aparentemente, nos evoca uma leitura recorrente em relação à obra rosiana: um estudo centrado na presença de elementos mágicos no texto. Entretanto, acreditamos que o conto deixa à mostra como uma situação comum pode ser construída como extraordinária tanto por parte dos personagens quanto por parte do narrador da história. Na narrativa, há uma mescla de elementos religiosos e de fábulas que são acionados para entender a fala e as ações da protagonista Maria, chamada de Nhinhinha. Os personagens do conto apostam numa chave de entendimento do comportamento da menina - ela faria milagres-, embora percebamos que todos os episódios vistos como milagrosos, na realidade, poderiam ser pensados também como eventos comuns, se atentarmos à própria mescla de fábulas e religião a que o imaginário infantil está exposto. Guimarães Rosa explora, nesse conto, a potência dos eventos comuns e as diferentes formas de lidar com eles.
O diálogo entre o tempo e o ser se dá originalmente nas estórias rosianas com as personagens infantis e anciãs. Tanto a criança quanto o idoso torna-se singular na narrativa. O tempo cronológico não cerceia a personagem rosiana, pois, a limitação da existência não decorre através de faixa etária, de mesmo modo, não há predileção por uma fase da vida nas estórias rosianas, não há infantilização da criança. No conto "As margens da alegria, a infância é apresentada como tempo de descobertas e aprendizagem. O "Menino" que parte de casa para a visita à cidade grande, com os tios, deixando um mundo vivido e sua mãe, para um mundo a ser descoberto.