Este artigo apresenta o objetivo de refletir sobre o lugar do animal na ficção de Guimarães Rosa (1908-1967). Para isto, desenvolveremos uma análise de “As Garças”, último texto do seu livro póstumo, intitulado Ave, Palavra (1970), organizado por Paulo Rónai. Em nossa abordagem, temos a intenção de interpretar criticamente a relação homem/animal, evidenciando-a como questão que corrobora uma ficção atual no que tange às discussões sobre todos os viventes. Trata-se, neste sentido, de uma literatura que realiza um diálogo permanente com a animalidade, o qual chamaremos, aqui, de zooliteratura. Em nosso trabalho, destacamos os estudos de Lucas (1972), Cunha (2013), Souza (2011), Maciel (2011) e Giorgi (2016).
A proposta desta tese é refletir sobre a infância, tendo em vista a problematização de conceitos paradigmáticos sobre o tema, via de regra, impregnados dos sentidos de falta, carência e incompletude. A abordagem cristalizada da infância como um estado precário, provisório e lacunar é equacionada neste trabalho cujo desafio é lançar outras propostas de leitura para o tema, dentre as quais o tratamento da infância como acontecimento, ligado à esfera do novo e da criação. Para tal discussão, este trabalho ancorou-se especialmente nos textos teóricos de autores como Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Gilles Deleuze, com o propósito de pensar sobre as possíveis relações entre a literatura e a infância. Tais relações se pautaram nos contos "Jardins e Riachinhos", de Guimarães Rosa. Para explorar este modo de ver a infância buscamos convergências de narrativas rosianas aqui exploradas com textos de Manoel de Barros, Bartolomeu Campos Queirós e Graciliano Ramos. A partir de imagens literárias desses escritores foi-nos possível identificar uma poética da infância ou infância da escrita. Trata-se de escritas tecidas pelo viés de criação e desvelamento, a partir de um contínuo brincar com as palavras. O infantil na literatura foi explorado não somente como um tema, mas principalmente como uma estrutura, ou seja, uma maneira de se escrever e dar a ver a infância em seu contínuo e criativo devir, subvertendo-se, assim, a idéia de que a infância se reduz a um tempo da carência, lacunaridade e insuficiência.
O objeto de estudo desta tese são algumas das narrativas elaboradas por João Guimarães Rosa e compiladas nos livros: Sagarana, Primeiras Estórias, Estas estórias, Ave, palavra, Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. A análise deste corpus tem a finalidade de verificar até que ponto essas narrativas ajudam a repensar o conceito de homem cordial presente no pensamento sociológico brasileiro, tendo em vista, sobretudo o desenvolvimento deste conceito no ensaio Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda (doravante SBH). Dada a inscrição dessas narrativas entre o sertão arcaico e a fundação do ambiente urbano brasileiro, mesmo panorama discutido por SBH, a partir da argumentação desenvolvida, concluiu-se que há um reaproveitamento estético de algumas das principais discussões desenvolvidas por SBH, sobre as raízes da sociedade brasileira. Acredita-se que tal reaproveitamento estético permite que a cordialidade ressoe no corpus analisado, o que nos leva a forjar aqui o qualificativo de poética da cordialidade para as narrativas produzidas por JGR e a enxergar no perfil biográfico desse autor um intérprete do Brasil.
O presente trabalho tem como objeto de estudo os contos que constituem a coletânea “Jardins e Riachinhos”, do livro Ave, Palavra, obra póstuma de João Guimarães Rosa. Nesses textos, analisamos as imagens arquetípicas dos jardins e dos rios, considerando o conceito de arquétipo de Jung, que constitui um correlato indispensável da idéia de inconsciente coletivo. O conceito de arquétipo indica a existência de determinadas formas simbólicas na psique humana, presentes em todo o tempo e em todo lugar. As imagens presentes na obra do grande prosador-poeta se formam em torno de uma orientação fundamental, que se compõe de sentimentos e emoções próprios de uma cultura, assim como de toda experiência individual e coletiva. Os jardins e os rios como imagens arquetípicas que simbolizam os desejos, as necessidades, as angústias do ser humano desde os primórdios. Assim, nos orientamos nos postulados de Gilbert Durand que, propondo uma antropologia do imaginário, deseja conciliar a totalidade das motivações simbólicas com base na sua mitodologia, aparato que estabelece as relações entre imaginário e literatura.
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