O presente trabalho objetiva apresentar uma leitura do conto ?Rebimba, o bom? sob a perspectiva do duplo. Após ficar órfão por ocasião de uma epidemia de varíola, o narrador-personagem desenvolve uma curiosa competência: a memória dúplice. De um lado, ele desfruta da memória de vida. Do outro, ele conserva a memória de morte. Na narrativa, todo o seu itinerário oscilará entre essas duas circunstâncias.
Examinar o conto “Rebimba, o bom”, de Guimarães Rosa, em suas imagens, ritos de iniciação e passagens de luto e de melancolia é propósito deste ensaio. Como um roteiro para a compreensão do imaginário na formação da identidade do sujeito, o texto rosiano apresenta imagens insólitas. É o caso de Rebimba, fantasia recalcada e, ao mesmo tempo, realçada pela repetição das memórias nos diferentes estágios da vida do protagonista anônimo: uma interpretação possível que dribla com os jogos da linguagem própria dos chistes que ora se mostram, ora também se escondem na complexidade de suas formas e sentidos.
O presente artigo traz uma análise do conto "Rebimba, o bom", de João Guimarães Rosa. O conto integra a última obra publicada em vida pelo autor, intitulada Tutameia (terceiras estórias), composta de quarenta contos curtos. A leitura analítica deste conto parte de uma breve contextualização da obra e algumas considerações acerca da opção narrativa empregada no texto. Na sequência, é realizado um detalhamento de como o narrador-personagem anônimo constrói a estória,
em uma alternância pendular de felicidade e infortúnio, até a conclusão conciliadora do conto, em que se revela a figura misteriosa de Rebimba. Para auxiliar na tarefa analítica, foram
retomados estudos da obra de Rosa realizados por Nilce Sant’Anna Martins (2001), Vera Novis (1989), Silviano Santiago (2001) e Irene Gilberto Simões (1988). Espera-se, com esta leitura,
contribuir com os estudos acerca da produção contística de Guimarães Rosa.
O presente trabalho tem por objetivo geral efetuar leitura analítica de sete contos de João Guimarães Rosa, presentes em sua última obra publicada em vida: Tutaméia -- terceiras estórias. Dentre as quarenta "estórias" do livro, elegeram-se as seguintes: "Antiperipléia", "Curtamão", "Êsses Lopes", "Rebimba, o bom", "Se eu seria personagem", "Tapiiraiauara" e "- Uai, eu", que possuem em comum, além da estrutura concisa, a presença de narradores autodiegéticos. Esta categoria, criada por Gérard Genette, diz respeito ao tipo de narrador que participou da história que conta, como protagonista. Para dar conta do artefato teórico foi escolhido como principal obra de apoio O discurso da narrativa, de autoria de Genette. O trabalho visa contribuir com os estudos acerca da obra contística de Guimarães Rosa, com destaque para a figura do narrador.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, é uma obra que desestrutura o leitor. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. A tese que se propõe defender nesta pesquisa dá conta de decifrar parte de um de seus enigmas. Curiosamente, o livro possui quatro prefácios distribuídos de entremeio aos contos. A nosso ver, desempenhando função específica planejada pelo ficcionista, tais textos estariam a serviço de “prefaciar” os correspondentes contos que antecipam. Através da análise dos onze contos que seguem o terceiro prefácio, “Nós, os temulentos”, o presente estudo objetiva evidenciar esta intenção do escritor. Em “Nós, os temulentos”, Guimarães Rosa explora, pela via do humor, a visão “diplópica” de “Chico, o herói”, propiciada pela embriaguez. Por meio da imagem deste temulento e de seus dualismos, o autor parece oferecer a chave temática do grupo de estórias que segue o referido prefácio. Acreditamos que a grande constante ou a coluna dorsal de tais contos é o tema do duplo. O primeiro passo a ser dado para provar esta tese inicia já na introdução do trabalho. Nesta parte, são detalhados os pormenores da peculiar estrutura de Tutaméia (Terceiras Estórias) e tecidas algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem. Em seguida, conforme antecipa o título do primeiro capítulo, é realizado “um périplo pelo território do duplo”, assunto de abrangência bastante considerável. Por último, são realizadas as análises dos contos “O outro ou o outro”, “Orientação”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, “Palhaço da boca verde”, “Presepe”, “Quadrinho de estória”, “Rebimba, o bom”, “Retrato de cavalo”, “Ripuária”, “Se eu seria personagem” e “Sinhá secada”.
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