Terceiras estórias é o subtítulo do livro de contos Tutaméia, de Guimarães Rosa. Essa expressão incita em muitos críticos o questionamento do que seriam as “terceiras estórias”, ou seja, o que significaria essa aparente ordenação, uma vez que apenas existem as “primeiras estórias”. Propomos uma reflexão sobre esse aspecto para concluirmos que os contos de Guimarães Rosa discutem o panorama complexo de nossa modernização a partir de seus narradores. Esta categoria narrativa deixa à mostra o jogo de poderes em nossa sociedade em histórias que irão se construindo em paralelo ao enredo aparente das narrativas. Para observarmos isso, leremos o conto “Tapiiraiauara”, em que notamos um narrador que constrói uma antipatia por uma espécie de coronel do sertão, mas, ao mesmo tempo, se serve de estratégias que são próprias do mundo que denuncia. Há no conto uma percepção do lugar volúvel que é o poder em nossa sociedade. Por isso, vemos esmiuçadas várias estratégias discursivas que podem acessar o poder de diferentes frentes, seja pelo repertório da modernidade, seja pelo do mundo patriarcal.
Obter a adesão do interlocutor é o propósito de todo retórico e também do narrador de Tapiiraiauara, de Guimarães Rosa. À mão de linguagem, por equivalência de afetos, ele obtém seu intento. A semiótica tensiva auxilia a explicar sua ventura ao mostrar que a persuasão envolve, com freqüência, um jogo tensivo de ausências e presenças.
Neste ensaio, proponho uma leitura do conto de Guimarães Rosa intitulado “Tapiiraiauara”, presente em Tutameia – Terceiras Estórias (1967), buscando mostrar como, nessa narrativa, por meio do discurso astucioso, o narrador-protagonista é capaz de reverter uma situação de violência iminente. A cena narrada é inserida no contexto do século XX, com a aproximação entre esta estória e as ideias de Hannah Arendt, pensadora fundamental daquele período. A atuação dos dois autores na resistência ao antissemitismo também é levada em conta nesta leitura, que estabelece ainda um diálogo com os mestres Ronaldes de Melo e Sousa e Ronaldo Lima Lins.
Examinam-se três contos de Tutaméia (Terceiras estórias), de João Guimarães Rosa: “João Porém, o criador de perus”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi” e “Tapiiraiauara”, respectivamente, a décima sexta, vigésima quinta e trigésima quinta narrativas. Observa-se o aproveitamento que o autor realiza de elementos procedentes de uma cultura falada, como também a transmissão e reinvenção de uma literatura popular, seu desempenho oral, suas situações de enunciação e de divulgação; assim, busca-se compreender o modo pelo qual o escritor confere credibilidade e verossimilhança ao que é ensinado através das manifestações orais.
A obra de João Guimarães Rosa é povoada por variada
fauna. A caracterização singular que a assinala é resultado dos
exercícios descritivos do autor, como se verifica em Ave, palavra
(1970). De modo geral, a representação dos animais na obra rosiana
segue duas possibilidades: protagonismo e utilitarismo. Tanto num
quanto noutro, a afeição pelos animais é manifesta. A partir desse
cenário, o presente artigo objetiva observar a construção do discurso
ecológico na obra rosiana, através da atitude estratégica do narradorpersonagem
do conto "Tapiiraiauara", de Tutameia (1967). Encerra
reafirmando a intimidade e a empatia da obra com os animais.
O presente trabalho tem por objetivo geral efetuar leitura analítica de sete contos de João Guimarães Rosa, presentes em sua última obra publicada em vida: Tutaméia -- terceiras estórias. Dentre as quarenta "estórias" do livro, elegeram-se as seguintes: "Antiperipléia", "Curtamão", "Êsses Lopes", "Rebimba, o bom", "Se eu seria personagem", "Tapiiraiauara" e "- Uai, eu", que possuem em comum, além da estrutura concisa, a presença de narradores autodiegéticos. Esta categoria, criada por Gérard Genette, diz respeito ao tipo de narrador que participou da história que conta, como protagonista. Para dar conta do artefato teórico foi escolhido como principal obra de apoio O discurso da narrativa, de autoria de Genette. O trabalho visa contribuir com os estudos acerca da obra contística de Guimarães Rosa, com destaque para a figura do narrador.
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