Neste artigo, o autor busca identificar em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, a lógica de base do romance, que responde pelo conjunto de sua estruturação formal, temas, motivos e linguagem, mas que não se reduz um módulo formal estático, meramente reaplicável. Ao contrário, trata-se de um núcleo em contínuo movimento a partir da consciência dividida do narrador, a configurar uma contradição insolúvel, uma espécie de dialética negativa, que não engendra superação ou síntese propriamente ditas.
O conto "Famigerado", de Primeiras estórias, permite considerar as pectos da violência na obra de Guimarães Rosa, tal como se configuram no momento em que o jaguncismo, inseparável do mandonismo sertanejo tradicional, sofre mudanças ligadas à urbanização e à modernização, indicadas pelo conjunto do livro. A regra sertaneja da aliança e da vingança, e a inconsistência da lei no sertão, e no Brasil, dão lugar a uma rede de ambivalências condensada no duplo sentido antitético da palavra ?famigerado?. Relações com Sagarana, Grande sertão e Corpo de baile sugerem que a violência fundante, no Brasil, que persiste através das mudanças modernizantes, transparece na obra rosiana como um karma desafiando a sua superação.
Esta análise da recepção de Grande sertão: veredas no Brasil reflete sobre procedimentos e resultados de uma parcela de sua fortuna crítica: aquela em que se engendram interpretações do
romance de Guimarães Rosa nas quais é posta em discussão alguma possibilidade de vínculo entre a configuração estética do livro e processos políticos e sociais vividos no país.
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