A língua, na perspectiva de João Guimarães Rosa, é uma marca que se imprime de maneira particular em cada sujeito falante e que se presta a um uso singular. As palavras, pois, se prestam a um uso de comunicação e veiculam um sentido, mas igualmente resistem ao próprio sentido. O próprio Guimarães Rosa demonstra isso em sua obra literária ao criar uma língua própria, formada por neologismos, aglutinações de palavras, sentidos conferidos pela homofonia e por sons que são próprios da vida e da fauna sertanejas. Há um ilegível que atravessa e insiste em todos os seus escritos, um ponto que resiste a toda e qualquer tentativa de decifração. A partir das noções expostas, busca-se abordar as concepções linguísticas e literárias de Guimarães Rosa a partir da Psicanálise, se utilizando das concepções de linguagem e escrita próprias do último ensino de Lacan.
Neste artigo é feito um estudo do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, de modo a se observar como o trágico manifesta-se nessa obra e como ele pode representar um sinal de salvação para a personagem principal. Tal estudo está ancorado na concepção de trágico nietzschiana, segundo a qual a tragédia se constitui a partir da fusão de duas forças opostas, referentes aos espíritos de Apolo e Dioniso, representantes da aparência e da essência, respectivamente.
Com base no tratamento que Guimarães Rosa dá à linguagem em sua obra, e particularmente no Grande sertão: veredas, desenvolvemos neste ensaio algumas reflexões acerca do sentido e função da "revolução linguística" empreendida pelo autor e da atuação dessa "revolução" sobre a figura do leitor, que passa a ser visto como um copartícipe do processo criador.
Guimarães Rosa serviu-se de toda a técnica e engenhosidade para ressaltar características do conto, destacando que o gênero busca na anedota, na fábula, na adivinha e no mito os meios para sua tessitura, o que na terminologia de André Jolles são concebidos como "formas simples". Em sua prosa inovadora, encontramos situações da vida real e imaginária, numa atmosfera poética de sondagem mítica do mundo, confluindo a poesia e a prosa, saber narrativo em que se observa a universalidade, a mobilidade e fluidez do gênero, tal como o entendemos hoje. Sob tal perspectiva, este trabalho pretende oferecer uma reflexão sobre algumas determinantes do conto à luz dos postulados rosianos, partindo do pressuposto de que esse é um caminho possível para a compreensão do fazer poético do escritor e, sobretudo, do conto brasileiro contemporâneo.
As Primeiras estórias como atos genesíacos primordiais. O princípio do uno e do múltiplo regendo a proliferação das estórias. Os quatro pilares fundamentais que sustentam a estrutura arquitetônica do livro: a catábase, o personagente, o psiquiartista e a alegria. O entrelaçamento destas noções e o seu desdobramento nas estórias. A estória medial – “O espelho” – e as duas estórias extremas – “As margens da alegria” e “Os cimos” – como o princípio ativo do livro a partir do qual as outras dezoito estórias seguem-se umas às outras num percurso progressivo de desvelamento e engrandecimento do homem. A seqüência das estórias e a sua orquestração conjunta na composição de um enredo harmônico. As correlações internas entre as estórias. O destino ascensional da alma e os ecos plotinianos na obra rosiana.
Este trabalho propõe um estudo comparativo entre Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa, e a historiografia de Eric Hobsbawm, enfeixada em títulos como Bandidos (1969) e Era dos Extremos (1994). No presente exame espera-se demonstrar como a história do Ocidente no século XX infiltra-se na particular inscrita nas páginas desse autor brasileiro e em seu remoto sertão caracterizado pelo
protagonista Riobaldo como sendo o próprio mundo. Este espaço geográfico se erige tal qual uma metonímia de todos os lugares, expressão do conceito de "aldeia global" cunhado por McLuhan (1911-1980) e distante, por assim dizer, de uma espécie de saudosismo sertanejo. Exemplos dessa ressonância da história ocidental abundam nesse romance como os grandes fenômenos apontados por Hobsbawm vivenciados no século passado: a emancipação feminina e a crítica aos modelos liberais, os quais originaram os grupos de bandidos sociais e as práticas de barbárie por estes cometidas que forjaram em algumas regiõe
Propõe-se, nesta comunicação, uma leitura da crônica "O mau humor de Wotan" (29.02.1948 — Correio da Manhã) do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, tendo por base o livro póstumo Ave, palavra de 1970. Por não ser muito conhecido, segue-se a amostra das primeiras impressões, que se obteve desse texto, considerando contexto histórico relacionado à Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de apresentá-lo ao público acadêmico. Fundamenta-se este trabalho nos estudos formulados por Hans
Robert Jauss (1979), que focaliza a primazia da hermenêutica centrada no leitor, aclarando, de um lado, o processo atual que concretiza o efeito e o significado do texto para o leitor contemporâneo e, de outro, reconstrói o processo histórico pelo qual o texto é recebido e interpretado por leitores de tempos diversos.
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