In this dissertation, I describe how popular culture was represented in the experimental narratives of 20th Century Brazilian Literature. Taking advantage of their dialogic properties, I study how three experimental novels (Macunaima, Grande Sertao: Veredas and A hora da estrela) incorporate, reproduce, and undermine other discourses referring to the people. In a culture in which literature is commonly read as a resonance box of other kinds of discourses, I foreground how the representations created by these novels differ from other discourses---especially the essay---and cast new light to the notion Brazilian culture.
Esta tese propoe-se a analisar o lugar do feminino na narrativa brasileira e se desenvolve, metodologicamente, a partir da leitura interpretativa de cenas ficcionais. Na primeira parte (cena i) procurou-se configurar a cena enquanto uma categoria, atraves da leitura do conto missa do galo, de machado de assis. Na segunda (cena ii) e a cena do suicidio de madalena, em sao bernardo, de graciliano ramos, o objeto de exame. A terceira parte (cena iii) tem a morte de diadorim, em grande sertao: veredas, como nucleo diretor e, por fim, a quarta parte (cena iv) trabalha a cena de amor entre lori e ulisses no romance uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de clarice lispector. Em conclusao, procura-se formular uma topica do feminino segundo o sistema de sobredeterminacao de sua representacao, produzida pelo imaginario masculino e suplementada agora por aquela delineada pelo imaginario da escritora-mulher.
Esta dissertação apresenta um estudo analítico-interpretativo do olhar como metáfora a partir da visão infantil dos personagens principais das narrativas “Campo Geral”, de João Guimarães Rosa, e “Miopia Progressiva”, de Clarice Lispector. Em ambos os casos, o protagonista é um menino míope que interpreta o mundo a partir dos olhares lançados para o ambiente e para as pessoas que o cercam. Esses “olhares” relacionam-se a outros significados e campos de abordagem, transpassados por diferenças conceituais entre a percepção captada pelo órgão olho – seja ela uma visão real ou distorcida pelo distúrbio visual – e a percepção subjetiva de cada sujeito, marcada pela ligação singular que ele estabelece com a realidade e o outro à sua volta. Em todo caso, tanto na narrativa de Rosa quanto no conto de Lispector, a miopia é apenas mais um dos muitos aspectos analisados e analisáveis que convergem para a mesma tensão dialética, tendo a “curta visão” como forma metafórica de uma linguagem polissêmica que expressa as dissensões do homem no mundo. Ainda que caracterizadas pelo estilo e pela linguagem única de cada autor, é possível traçar algumas similaridades entre as duas obras, como o interesse na abordagem do universo infantil, o tema da maternidade e, sobretudo, a relação complexa entre o universo externo e o universo interno estabelecida pelos protagonistas, espaço este no qual nem tudo parece ser aquilo que se apresenta aos olhos. À luz da psicanálise, sobretudo a lacaniana e o seu conceito de “deslizamento do significante”, a questão do olhar ganha contornos que remetem, por sua vez, a outros significantes.
Este estudo apresenta um diálogo entre obras de escritores brasileiros atuantes na década de setenta, durante a ditadura militar brasileira pós-64, e livros de escritores anteriores cujas obras estão situadas no âmbito do século XX. Procura-se expor a relação produtiva, intrínseca à sua realização estética, formal e temática, que esses romances estabelecem entre si, e seu significado amplo em termos de crítica e historiografia literária. Os escritores abordados são: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Antonio Callado, Osman Lins e João Ubaldo Ribeiro. A base teórica fundamental para o estudo dessas relações está baseada na obra de Erich Auerbach e de estudiosos brasileiros, como Antonio Candido.
Esta tese tem como objetivo analisar e discorrer sobre a representação do fenômeno do Mal na prosa romanesca brasileira desde a publicação de Angústia (1936) de Graciliano Ramos a Não verás país nenhum (1981) de Ignácio de Loyola Brandão. Além destes dois romances, são analisados, Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa; A paixão segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector; A porteira do mundo (1967), de Hermilo Borba Filho e Um copo de cólera (1978), de Raduan Nassar. O objetivo principal é refletir sobre a presença do tema do Mal em seus diferentes desdobramentos em tais autores, sob o ponto de vista da mímesis, abordando sua influência dentro do plano político, social, humano, filosófico, etc. Assim, discutimos, com um viés interdisciplinar, conceitos como estado de exceção, tragédia, ficção-científica, erotismo, usando como apoio teórico autores como Hannah Arendt, Susan Neiman, Terry Eagleton, Giorgio Agamben, George Bataille, entre outros. A proposta é identificar pontos específicos e comuns entre as obras, compreendendo-as, sobretudo, de forma independente, sem pensá-las dentro de um único modelo, mas estabelecendo ligações entre elas e de como foram importantes para pensar o tema do Mal dentro da literatura brasileira ao longo do século XX.
Análise das representações da criança e dos processos de aprendizagem e formação nos contos de Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Parte-se inicialmente da criação de uma tipologia que sistematiza e categoriza as imagens da infância, as suas intermediações familiares, escolares e sociais, bem como as relações que se estabelecem entre os indivíduos e grupos que se afirmam nas narrativas: pais e filhos, alunos e professores. Os espaços nos quais essas mediações têm lugar (natureza, casa e escola) e os percursos de aprendizagem e formação que norteiam a afirmação da infância são também analisados e articulados com várias teorias acerca da constituição do infantil e das injunções de poder que marcam os confrontos e diálogos entre esses atores sociais. Em uma perspectiva interdisciplinar, os campos teóricos da Educação, História e Literatura imbricam-se por meio do pensamento de autores que refletiram sobre a infância e a formação: Norbert Elias, Philippe Ariès, Mikhail Bakhtin e Walter Benjamin. Além disso, na constituição das infâncias nos contos selecionados, observa-se a interferência motriz de elementos conceituais que delimitam o campo de atuação dos personagens: o conflito, a viagem, o sacrifício, a linguagem, a imaginação, o riso, a morte e o amor. Constrói-se, assim, com a tese um espaço de reflexão sobre as contribuições do texto literário para os estudos pedagógicos acerca da criança e das suas formas de estar no mundo.
Este trabalho propõe uma abordagem teórica da evolução do conto como gênero nos séculos XIX e XX, analisando momentos representativos de seu desenvolvimento formal em literaturas de expressão linguística inglesa e portuguesa. Para tanto, foram selecionadas obras de escritores que sintetizam e articulam certas tendências comuns ao gênero. Destacam-se, ao longo do trabalho, os contos escritos por Edgar Allan Poe, João Guimarães Rosa, James Joyce, Jorge de Sena, Virginia Woolf e Clarice Lispector, aos quais também se adiciona a produção dos irmãos Grimm, de Alexsandr Afanas’ev (advindos de outras expressões linguísticas) e de Câmara Cascudo. Os contos são discutidos a partir do tratamento enunciativo das formas de tempo e espaço e das relações dialógicas entre as diversas consciências que constituem as narrativas (autor, narrador e personagens), além da particular tensão, percebida na evolução do gênero, entre as tentativas de aproximar formalmente o conto de, por um lado, uma expressão de caráter comunitário, e, por outro, uma expressão de caráter individual.
O duplo enquanto representação da dualidade humana participa do imaginário popular desde épocas remotas. Esse conceito relacionado à fragmentação da identidade humana tem chamado cada vez mais a atenção da crítica literária, tema que se relaciona diretamente com as discussões cada vez mais atuais sobre o estudo de gêneros, com destaque para o Feminismo, já que as mulheres por muito
tempo foram vistas como sexo inferior, ficando à mercê de um tratamento diferenciado e relegadas a uma posição social de serventia e obediência aos homens. Nesse contexto, é comum a criação de uma dualidade no sujeito subtraído, gerando uma desordem íntima formada pelo conflito entre a posição que lhe era conferida historicamente e socialmente contra sua própria personalidade e
individualidade. Neste trabalho, buscamos analisar o duplo nas protagonistas femininas de contos brasileiros e estadunidenses tendo a morte como elemento de transformação. Como suporte teórico, nos embasamos nos trabalhos de Brandão (2006), Bravo (1997), Foucault (1995, 2004a, 2004b), Mello (2000), Zolin (2009), dentre outros. Para o tratamento analítico dos contos, utilizamos o método de estudo descritivo e o comparativo, isso porque, após a exposição dos contos, realizamos um cotejo entre os contos a serem estudados no sentido de encontrar afinidades e divergências entre eles com o intuito de verificarmos a forma como essas narrativas dialogam, especialmente no que se refere ao tratamento dos temas duplo, identidade, feminismo e morte. Os resultados mostram que todas as protagonistas analisadas fazem uso de uma máscara metafórica que é assumida perante a sociedade patriarcal na qual estão inseridas. A criação e o uso dessas máscaras, porém, divergem de acordo com a narrativa, pois, algumas das personagens femininas apresentam atitude ativa em relação ao masculino, agindo contra ele de modo a alcançarem o empoderamento, enquanto outras, devido à postura passiva que adotam, não alcançam o empoderamento e acabam por ser vítimas dessa inatividade.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
O presente estudo aborda a ficcionalidade da narrativa em primeira pessoa. O ponto de partida para a reflexão empreendida aqui é a teoria elaborada por Hamburger, para quem a primeira pessoa seria fingimento, e não ficção. Refletindo sobre tal teoria, adota-se aqui o conceito de ficção elaborado por Iser, mas com atenção também para outros teóricos. A ficção é vista como uma espécie de jogo, em que cada obra cria suas regras de acordo com a intencionalidade do autor e as possibilidades de recepção, pelo leitor. A narrativa em primeira pessoa, pelas especificidades técnicas que desenvolveu, sobretudo a partir do início do século XX, aparece como uma intensificação daqueles elementos que desvelam a natureza fictícia da obra. Aborda-se, assim, o foco narrativo e o tempo como sendo, dentre esses elementos, aqueles que exibem com maior intensidade essa natureza. Após uma visão sobre as teorias acerca da ficção, aborda-se a transformação operada nesse foco em direção a formas que se evidenciam como ficcionais. A análise de três obras representativas da moderna literatura brasileira especifica modos diversos de o ficcional revelar-se.
O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a representação das personagens femininas em cinco obras da literatura brasileira: A Menina Morta de Cornélio Penna, Crônica da Casa Assassinada de Lúcio Cardoso, Corpo de Baile de Guimarães Rosa, O Lustre de Clarice Lispector e Cabra-Cega de Lúcia Miguel Pereira. Na primeira parte deste trabalho, capítulo um e dois, procuramos demonstrar como a ideia inicialmente arquitetada para o projeto foi transformada ao longo do processo de desenvolvimento da pesquisa, conforme realizávamos as leituras que compõem o referencial teórico desta tese. No terceiro capítulo analisamos os textos literários que compõem o corpus desta pesquisa, em específico, procuramos observar as personagens prostitutas e tentamos demonstrar como, durante muito tempo, a construção da prostituta como uma mulher que usufrui de liberdade sexual e social, uma mulher livre dos afazeres, serviu como uma ferramenta que contribuiu para acentuar o lugar marginal a que foi destinada na sociedade. No quarto capítulo nos dedicamos a discutir o quanto as personagens adúlteras são as verdadeiras opositoras ao sistema patriarcal, mulheres que ao corroerem a principal base do patriarcalismo, a família, abalaram toda a sociedade patriarcal.
A narrativa curta, também denominada conto, no contexto do modernismo tardio brasileiro, é o objeto de estudo deste trabalho. O conto possui uma caracterização própria, diferenciando-se de outras narrativas literárias naquilo que a teoria comumente denomina "extensão" ou, segundo Carlos Reis e Ana C. Lopes, uma "modalidade de variação temporal da narrativa". Todos os elementos que marcam a diversidade deste tipo textual em relação às demais formas narrativas, tais como: brevidade, simplicidade constitutiva, linearidade, concentração de enredo, concentração cronotópica, densidade dramática, singularidade temática, intensidade, univocidade e univalência, estão, de certa maneira, ligados à extensão. A análise e a interpretação dos componentes tempo e espaço na formação do cronótopo são realizadas, nesta pesquisa, com vistas ao reconhecimento de um pathos que, acredita-se, fornece densidade à brevidade do conto moderno. As fontes de pesquisa para análise e interpretação dos contos centraram-se em estudiosos especializados em teoria e crítica literárias que examinaram as categorias temporais e espaciais e aqueles que consideraram o cronótopo no contexto da modernidade, no século XX. Além destes, filósofos e pensadores voltados para o estudo do tempo e do espaço, considerando as narrativas como foco.
A proposta principal deste trabalho é analisar a representação de animais e animalidade na literatura da brasileira sob a perspectiva dos Estudos Animais - área de pesquisa voltada para a compreensão de animalidade e animais enquanto seres vivos e imaginados. A análise se apresenta como um estudo temático e é organizada a partir da subdivisão do grande tema dos animais em oito ramificações temáticas: animais colonizados, animais idealizados, animais nacionais, animais domésticos, animais metafísicos, humanos animalizados, animais sujeitos e animais agentes. Estes subtemas exemplificam padrões culturais percebidos em obras literárias que datam desde o período colonial até a década de 1980, aproximadamente. O corpus selecionado para a presente análise se constitui de autores como Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Alphonsus, Lúcio Cardoso, Rachel de Queiroz, José de Alencar, entre outros, totalizando cerca de cinquenta e cinco textos literários e documentais. Neste trabalho, utiliza-se uma metodologia histórico-comparativa que visa, também, propor uma reorganização da história da literatura brasileira sob um viés temático. Não existe aqui a ambição de realizar um trabalho de historiografia extensiva, mas sim aquela voltada para a organização de um corpus que apresenta assuntos afins. Os textos literários em questão são arranjados e analisados de acordo com o tema no qual estão inseridos, não seguindo, portanto, uma ordenação cronológica. Em cada uma das ramificações temáticas estabelece-se relações interpretativas que colocam textos pertencentes a diferentes movimentos literários e períodos históricos lado a lado, a fim de demonstrar o diálogo existente entre o conteúdo de textos literários e documentais diversos.