No presente estudo se interpreta o conto “Os cimos”, da obra Primeiras Estórias (1962), de João Guimarães Rosa, em diálogo com o episódio de Grande Sertão: Veredas (1956) em que Riobaldo e Diadorim realizam a travessia do rio São Francisco. A interpretação se faz à luz da viagem-travessia empreendida pelo homem, em seu percurso existencial, como motivo de aprendizagem constante da experiência de viver. Para o desenvolvimento deste trabalho, contou-se com a contribuição de Benedito Nunes (2009), para quem o homem é a viagem e a própria travessia acontecendo, na qual incessantemente se desvela o sentido da existência.
In the present article, I locate an implicit environmentalism João Guimarães Rosa’s writing from the 1950s and 1960s. This sensibility is easy tomiss, in part because it transposes political debates on damage inflicted in thename of development and progress onto the affective-ethical plane; however, it does so in a way that resists sentimentality or projecting a misplaced innocenceonto the non-human world. Focusing on emotional relationships between humansand non-humans, I read “As margens da alegria” and “Os cimos” as expressingan eco-critical discourse that was already latent in Grande sertão: veredas.Recasting the natural world as a site of both unfathomable otherness and relationsof tenderness, Guimarães Rosa presents the emotional hold that nature has onhumans and the cost of cleaving oneself from it—a cost that includes diminishingthe human capacity for delight, wonder, and eros.
O presente trabalho tem por objetivo analisar a construção do espaço no conto “Os cimos”, último do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. Nosso escopo é determinar como a construção do espaço, feita pelo narrador, homologa ou não os percursos temáticos e influencia a construção do ser da personagem principal. A metodologia que utilizaremos é a da topoanálise, mais as propostas de alguns teóricos como Bachelard e Cassirer. Os espaços da intimidade, de dualidade entre o grande e o pequeno, o interno e o externo do ser, bem como a projeção desses espaços “no” e “pelo” outro são alguns dos pontos discutidos no desenvolvimento deste trabalho.
A partir de dois contos de Guimarães Rosa, discute-se a saga de construção de Brasília enquanto projeto urbanístico e enquanto projeto de modernização da sociedade brasileira. Aqui, a fábula de um menino que por duas vezes visita o canteiro de obras de Brasília é lida como metáfora, na qual a construção do espaço moderno, da nova e grande cidade, atua na condição de cenário coadjuvante do processo. Brasília como signo de possibilidades.
Os contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, primeiro e último, respectivamente, do livro Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa são analisados comparativamente objetivando investigar o olhar da personagem infantil em relação ao espaço ao seu redor. Ambos os contos trazem a figura de um Menino que se desloca de casa para um lugar onde uma grande cidade está em fase de construção. Acredita-se que o espaço seja um elemento que possibilita conceber a imersão dessa personagem, enquanto sujeito perceptivo, em um mundo socialmente partilhado. Dessa forma, a análise feita se sustenta em teorias que discutem o espaço ficcional enquanto materialização das experiências humanas, nos contos, mais especificamente, das percepções e experiências da personagem infantil.
Interpretação da primeira e da última estórias da obra Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, tendo como orientação teórica básica a estética concreta de Gaston Bachelard e suas noções-chave: a imaginação material e dinâmica, a isomorfia das imagens e o método ritmanalítico.
Este trabalho analisa contos de Guimarães Rosa de Sagarana (1972) e Primeiras estórias (1972) em que aparecem personagens infantis, para compreender em que medida o espaço da natureza contribui para o aprendizado no percurso de formação da criança-aprendiz. No percurso das personagens infantis, a força da natureza exerce papel fundamental: para Tiãozinho, no conto “Conversa de bois”, ela está representada na participação ativa dos bois que intercedem, magicamente, em favor do menino; em “As margens da alegria” e “Os Cimos”, as descobertas do Menino acontecem, sobretudo, pela observação da natureza que se alterna de acordo com a sensibilidade da personagem em face dos acontecimentos; nanarrativa de Brejeirinha de “Partida do audaz navegante”, a paisagem passa a integrar a história inventada pela contadora-criança. As análises são realizadas a partir de pressupostos teóricos da narrativa, da filosofia e da tradição crítica sobre Guimarães Rosa.
Este trabalho busca demonstrar, em “As margens da alegria” e “Os cimos”, respectivamente os contos inicial e final de Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa, como um percurso de crescimento de Menino, protagonista de ambos, se dá no confronto entre um “mundo idealizado” e a percepção que ele tem do “mundo real”, num primeiro momento, e, num segundo momento, na reconstrução individual do seu olhar em relação à vida, o que o permite recuperar algo que foi perdido nesse choque entre o idílico e a realidade prosaica. Esse processo de aquisição da experiência, que confere modernidade aos contos, só se concretiza, como tentaremos explicitar, em razão do seu chão histórico, que exerce importante papel na produção de sentido das estórias.
Este trabalho considera a travessia em três contos reunidos na obra literária Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, verificando igualmente seu intertexto temático com Grande sertão: veredas, outra obra de sua autoria. O escritor brasileiro dialoga com a tradição, ao reutilizar um tema que remete a obras paradigmáticas da literatura ocidental.
Este artigo pretende analisar a questão da temporalidade nos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, observando questões relacionadas à narrativa. Há que enfatizar que este estudo não visa à identificação de todos os “tipos” de tempo, mas procura verificar em que medida ele – o tempo – se apresenta como uma categoria importante do processo narrativo.
Este ensaio discute as representações da infância em contos de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, a partir das relações familiares, do medo e da descoberta da sexualidade.
O estudo dos mecanismos lingüísticos que referenciam espaços enunciativos é objetivo dessa pesquisa. Para isso, valeu-se dos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, textos da coletânea de 21 contos de Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa. Buscou-se evidenciar as operações cognitivas necessariamente envolvidas na implementação da discursivização, segundo Fauconnier & Turner (2002): Identificação, Integração, Imaginação. Observou-se que os dois contos são como duas imagens superpostas, em cuja superposição se evidenciam diferenças e similaridades que configuram uma nova imagem. Nessa imagem integrada, surgem duas realidades discursivas: a de um Menino e a da construção da “grande cidade”.
Fundamentalmente, uma questão atravessa nossa leitura: como o universo in fantil se entremeia ao universo do narrador adulto, onisciente, que acompanha seu olhar até certo ponto. Para tentar responder, o ensaio investiga de que maneira esse universo infantil se relaciona com o tempo e o espaço que o Menino percorre, o que leva a uma questão maior: a articulação entre História e mito-tanto no sentido de enredo, "mythos", · como, e sobretudo, no sentido de narrativa mítica, de significação simbólica.
Este artigo pretende refletir acerca das investigações da Crítica Literária, relacionando-se o papel do crítico à experiência pela qual passa o “Menino” – personagem protagonista dos contos As margens da alegria e Os cimos, de Guimarães Rosa. Tal reflexão se desenvolverá sob o viés teórico-metodológico de estudiosos da área, tais como os de Jorge Wanderley (1992), Benedito Nunes (2009), Afrânio Coutinho (2009), Antoine Compagnon (1999), Terry Eagleton (1977) e de Nancy Huston (2010), dentre outros que dão suporte aos temas aqui levantados, seguindo-se uma postura crítico-analítica acerca do liame entre o crítico, a teoria literária e a literatura.
Neste artigo propomos abordar o papel de João Guimarães Rosa na literatura de seu tempo,
examinando a obra Primeiras estórias (1962) e problematizando sua relação com a História a
partir de seu conto inicial e também do final, que são protagonizados por Menino, o qual teria
viajado ao local onde se edificava a grande cidade, remetendo à construção de Brasília e ao
processo histórico de urbanização do Brasil, que ali é visto a partir do olhar de uma criança.
Nossa análise centra-se na questão da ficção como mediadora engendradora dos discursos da
Literatura e da História, que é ideia defendida por teóricos como Luiz Costa Lima e Carlo
Ginzburg. Nossos resultados sublinham que a perspectiva literária rosiana, ao abordar a História,
não reproduz o discurso da historiografia, mas aposta em uma criativa reapresentação.
O objetivo deste ensaio é investigar, através da análise dos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e de alguns poemas de João Cabral de Melo Neto, o modo como esses autores abordam as ambigüidades do processo de modernização urbana no Brasil, ao elegerem a cidade de Brasília como ponto de partida para uma reflexão sobre as especificidades da interface moderno/arcaico na cultura brasileira.
Este trabalho objetiva tratar do tema da infância na obra de Guimarães Rosa, tendo como ponto de partida os contos de abertura e encerramento de Primeiras estórias, publicado em 1962: “Nas margens da alegria” e “Os cimos”. Os contos apresentam uma estrutura semelhante, em que a personagem infantil, identificada como “menino”, viaja de avião para a cidade de Brasília em companhia do tio. Como toda viagem, esta depreende o contato com um mundo novo, em que várias descobertas no âmbito real e no simbólico promovem um processo de amadurecimento psíquico na criança. Essa estrutura básica, na qual o motivo da viagem tem particular importância, pontua a aderência de Rosa a uma tradição literária que remonta ao “romance de formação” alemão. Considerando a remodelação dessa forma literária a partir de seu pressuposto temático-formal fundamental, a viagem e sua potencialidade no desenvolvimento do eu no encontro/contato com o outro, propõe-se uma leitura dos contos, na qual o tema da “viagem de formação” ganha destaque e a figura infantil alcança lugar central na narrativa brasileira moderna.
A discussão entre as semelhanças, diferenças e inter-relações entre história e literatura, realidade e ficção, permeia as obras de muitos especialistas de ambas as áreas há muito tempo. Vocábulos como estória e história foram – e ainda são, em alguns contextos – usados, no Brasil, com diferentes significados: estória referir-se-ia a ficções, algumas vezes mirabolantes e inverossímeis, e história trataria do real. Na obra rosiana, a História e a Estória coexistem em perfeita harmonia. As fronteiras entre o histórico e o mito são tênues, quase imperceptíveis. Em suas narrativas, a realidade brasileira, a religiosidade, as tradições populares – as histórias – estão inseridas nas “estórias” de forma suave e inseparável. Neste artigo pretendemos refletir sobre as possíveis relações, empreendidas por Guimarães Rosa, entre a história e a estória nos contos “Nas margens da alegria” e “Os cimos”, de Primeiras estórias, livro publicado em 1962.
PALAVRAS-CHAVE: Estória, história, Guimarães Rosa.