O objetivo deste trabalho é fazer um estudo comparativo acerca das personagens principais dos contos “A Benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa e de “A Rosa Caramela”, publicado no livro Cada homem é uma raça, do escritor moçambicano Mia Couto. Mula-Marmela remete à protagonista, que livra o povo de um mal que pesa sobre o lugarejo. Já Rosa Caramela é uma personagem diferente, pois age de uma maneira excêntrica e é excluída da comunidade onde reside. Busca-se a articulação entre elas pela presença nos lugares onde vivem destacando-as pelas suas diferenças, enfatizando o narrador e a construção narrativa.
Trata-se de uma leitura dos contos "A loba", de Giovanni Verga, e "A benfazeja", de Guimarães Rosa, a partir de um mesmo motivo literário da mulher demoníaca, tendo a comparação como método, isto é, como eixo central que busca alargar a compreensão crítica das obras. Em seu percurso pelas paarticularidades histórico-estéticas desses textos, a perspectiva comparatista aqui visa - ainda que de maneira breve - à explicitação de diferenças que possam ensaiar o aclaramento da relação de tais textos com a sociedade e o momento histórico em que foram produzidos.
Este artigo pretende refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, décimo sétimo conto do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Em nossa leitura, propomos a existência de um viés que dialoga com a tragédia grega antiga, aclimatado no sertão dos gerais. Assim, o diálogo com o drama grego dá-se, sobretudo, na imersão de elementos que compõem as tragédias, como a catarse e o destino (moîra), mas lido na proposta rosiana, isto é, na perspectiva do cotidiano, lugar de muitas “estórias”, as quais se ligam ao teor das temáticas humanas universais. Além disso, a narrativa perfaz-se no jogo retórico das paixões, o qual segundo Aristóteles, é peça importante no julgamento, e que nos servirá de fundamento ao pensarmos juízos de valores em relação às personagens.
Tema pouco lembrado pela crítica, porque presença discreta no conjuntoda obra rosiana, a maternidade alca nça contornos literárioscomoventes, para os q uais o olhar psicanalítico pode sugerir um de seus"sentidos". Entre outros, "A benfazeja" e "Sinhá Secada" constituemtextos exemplares dos afetos maternos a resgatarem questões como luto,renúncia, barreira à sexualidade, desamparo, demanda etc. - pontos deintersecção primorosos entre Literatura e Psicanálise.
Neste artigo se propõe dialogar com as reflexões filosófico-estéticas e formativas de Walter Benjamin, Theodor Adorno e Guimarães Rosa sobre a problemática da “violência e educação”, na perspectiva de problematizar e enfrentar a violência como barbárie, que perpassa as relações sociais e educacionais no atual quadro de dominação e de hegemonia do sistema capitalista neoliberal. E para realizar esse percurso, pretende-se o texto trilhar os seguintes passos: a violência reinante na escola de educação básica; Walter Benjamin e a crítica da violência; a violência nos escritos de Theodor Adorno; a violência como puro meio em A Benfazeja, de Guimarães Rosa; a violência divina na formação dos educandos.
Este trabalho se propôs a analisar três personagens femininas de três contos de Guimarães Rosa: Flausina, de “Esses Lopes” e Senhora/Sinhá, de “Sinhá Secada”, ambos de Tutameia; e Mula-Marmela, de “A benfazeja”, conto de Primeiras estórias. Consideramos, neste estudo: a posição social da mulher na estrutura social do sertão de Guimarães Rosa, a constituição das personagens estudadas enquanto personagens modernas e a forma como suas especificidades são construídas pelo narrador de cada conto. Fundamentamos a noção de Modernidade em estudos como os de Hall (2011), Bradbury & McFarlane (1989), Hollington (1989), McFarlane (1989), Candido (1976), Barbosa (1990) e Moreira (2012). Para o estudo da estrutura social do sertão de Guimarães Rosa, tivemos o auxílio de estudos como os de Gilberto Freyre (1987), Antonio Candido (1951), bem como da crítica rosiana que discutiu o assunto, como os de Luiz Roncari e Walnice Nogueira Galvão. Para o estudo das personagens femininas, foram de muito auxílio os estudos críticos sobre os contos estudados, principalmente, o de Cleusa Rios. P. Passos (2000).
Canônico, experimentalista, agregador de símbolos cifrados de diversas tradições, João Guimarães Rosa introjetou frescor ao regionalismo e à literatura brasileira, o que se deve, sobremaneira, à tessitura de como amalgamou os modelos simbólicos universais para falar do mais pitoresco, o sertão mineiro. O patriarcalismo sertanejo irrompe como um microcosmo das relações culturais de poder e de opressão, que historicamente forjaram a construção do ser social da mulher. Refratando um mundo violento e hierarquizado, onde se mesclam fé e violência, onde são rarefeitas as chances de emancipação, sua obra oferece personagens femininas flagradas utilizando diversificadas estratégias de resistência e de revide na luta pela sobrevivência. Nesta dissertação, atenta-se para três mulheres, que ultrapassaram os limites mais sacros dessa ordem social e cultural, representados pelo homicídio de seus maridos. Percebe-se o farto material que elas oferecem para o estudo das ideologias de gênero, uma vez que revelam e chegam a inverter alguns dos paradigmas centrais outorgados pelo patriarcado, como a fragilidade e a subserviência. Em recorrência, três emblemáticas personagens, que assassinam seus maridos ou arquétipos de maridos, forjam o corpus deste trabalho, Maria Mutema, Mula-Marmela e Flausina. A primeira faz parte de um episódio incrustado no romance Grande Sertão: Veredas (1956), que a narra como assassina confessa do padre e do marido, entre outras subversões. No conto A benfazeja, de Primeiras estórias (1962), aparece a segunda mulher, que mata o seu companheiro e o enteado. Por sua vez, a última é uma narradora autodiegética, que conta como “ceifou” a vida dos quatro homens da mesma família, com que mantinha relações maritais e/ou de submetimento. Trata-se do conto Esses Lopes, integrante do livro Tutaméia (1967). Com efeito, à luz da Crítica Feminista e com a contribuição de teóricos como Pierre Bourdieu (2005) e Jacques Derrida (2004), inclinados a investigar o julgamento cultural da condição feminina, perscrutou-se a representação dessas três personagens, de suas regularidades em termos de transgressão, inclusive com uma gradação emancipatória até Flausina. Buscou-se mostrar como concatenam símbolos muito caros à história das mulheres e exercitam diferentes ferramentas do feminismo crítico.
A proposta desta dissertacao e detectar a camada simbolica, mitica, mais precisamente, as estruturas miticas subjacentes a quatro contos de "Primeiras estorias", de Guimaraes Rosa: "A menina de la", "Um moco muito branco", "A benfazeja" e "Nada e a nossa condicao", e o que decorre disso.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Este trabalho objetiva a análise do conto ?A benfazeja?, de João Guimarães Rosa, publicado em Primeiras Estórias. Em sentido mais estrito, evidencia a tentativa do narrador em dissociar a feiúra da Mula-Marmela da maldade que lhe é atribuída pela pequena comunidade onde se desenvolvem os fatos. Deste modo, inicialmente, constitui referencial teórico específico acerca da feiúra, indicando a volubilidade como seu caráter essencial. A seguir, apresenta modelos históricos, artísticos e filosóficos em torno do tema. Do mesmo modo, propõe um recorte histórico que visa compreender com quais elementos a feiúra, que é desarmônica, imperfeita e repugnante, se torna um atrativo para a Arte e nela se realiza. Noutro momento, o trabalho se dedica à observação do feio na obra de Guimarães Rosa, inventariando suas ocorrências, desde Sagarana até Tutaméia, e ratificando a importância deste elemento para a completude das narrativas do escritor mineiro. Por fim, analisa o conto em questão, demonstrando um processo pelo qual se intenta provar que a existência da Marmela foi indispensável para a harmonia daquela comunidade, ratificando que, em sentido mais amplo, as coisas mais feias, aparentemente desprezíveis, possuem grande valor para o conjunto em que se inserem.
O artigo lança um olhar sobre textos primorosos dos escritores Guimarães Rosa e Miguel Torga, dois dos maiores autores em Língua Portuguesa: os contos “A benfazeja” e “A Maria Lionça”, respectivamente. Nos dois textos, de uma sensibilidade e beleza peculiares, foram identificados os elementos que corroboraram para a construção de personagens femininas tão ricas e complexas, donas de uma força e generosidade que chegam a ser sobre humanas; a íntima relação que estabelecem com a paisagem, o local onde vivem – respectivamente o sertão brasileiro e a região de Trás-os-Montes, em Portugal –; e como os autores conseguiram tornar as duas narrativas, embora arraigadas aos costumes e experiências de suas terras natais, impregnadas de um profundo sentido universal.
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