Apoiando-se nos mecanismos básicos de funcionamento do inconsciente o deslocamento e a condensação -, a autora analisa o conto "A benfazeja", de Guimarães Rosa, observando como se tece sua intertextualidade com a peça Édipo Rei, de Sófocles.
Qual a distância entre a incompreensão diante de atitudes alheias do que entendemos por loucura? Até que ponto é o homem capaz de se despir de seu individualismo em prol do bem estar dos que são por ele amados e da sociedade? Perguntas como estas tomaram nossas reflexões no desenrolar de contatos sucessivos com o conto “A benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, cuja primeira edição, empreendida pela José Olympio, completa agora quarenta anos. Tencionamos buscar, portanto, com esta apreciação, algumas respostas para os questionamentos apresentados acima, a partir da análise das personagens Mula-Marmela, Mumbungo e Retrupé, bem como das relações entre elas estabelecidas e as demais personagens não nomeadas do texto.
Objetiva-se demonstrar as marcas do trágico presentes no conto "A benfazeja" (Primeiras estórias, 1962), de João Guimarães Rosa. A desmedida (hybris), a fatalidade do destino, o bode expiatório (pharmakós) constituirão o centro do enfoque. O tom persuasivo do narrador do conto rosiano está confrontado com o de Atena em "Eumênides", de Ésquilo.
Este artigo pretende refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, décimo sétimo conto do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Em nossa leitura, propomos a existência de um viés que dialoga com a tragédia grega antiga, aclimatado no sertão dos gerais. Assim, o diálogo com o drama grego dá-se, sobretudo, na imersão de elementos que compõem as tragédias, como a catarse e o destino (moîra), mas lido na proposta rosiana, isto é, na perspectiva do cotidiano, lugar de muitas “estórias”, as quais se ligam ao teor das temáticas humanas universais. Além disso, a narrativa perfaz-se no jogo retórico das paixões, o qual segundo Aristóteles, é peça importante no julgamento, e que nos servirá de fundamento ao pensarmos juízos de valores em relação às personagens.
Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, de João Guimarães Rosa, colocando-se como ponto de convergência entre a personagem Mula-Marmela e as manifestações trágicas no Sertão, colocando-se como “aclimatação” a partir de diversos elementos, como o destino, a desmesura e a catarse. “A benfazeja” dialoga com a universal dimensão humana presente nos dramas gregos, sobretudo no que tange às escolhas e à relação com a comunidade, em um movimento que redimensiona as “estórias” gregas no cotidiano sertanejo.
Este artigo busca demonstrar que duas das perspectivas de leitura possíveis apresentadas em “A benfazeja”, de Guimarães Rosa – a da comunidade que condena a protagonista por sua aparência e conduta desviantes e a do narrador que a redime –, são ambas variantes de uma mesma prática, constituídas através de uma operação narrativa que, alicerçada pela retórica oblíqua e persuasiva do narrador, manipula e suscetibiliza o interlocutor. Ao ser confrontado com suas próprias contradições, este é inserido em um processo de modernização de um Brasil onde arcaico e moderno não se substituem nem se anulam, mas, ao contrário, se complementam e se retroalimentam.
No presente ensaio, compara-se o conto rosiano "A benfazeja" com a canção "Geni e o zepelim", de Chico Buarque de Hollanda,, considerando, em ambos, o processo de construção textual em uma perspectiva do trágico.
Este trabalho tem por objetivo abordar a questão da estigmatização a partir de uma leitura do conto "A Benfazeja" de Guimarães Rosa. Para a realização desse objetivo fizemos uma revisão do conceito e da classificação de estigma proposta por Erving Goffman e, com base nesses dados, analisamos as personagens de “A Benfazeja” e como o conto mostra os corpos e as identidades dos personagens sendo socialmente construídos. Incidentalmente são feitas algumas considerações sobre a posição do narrador em relação às personagens e ao narratário e sobre os mal-entendidos relacionados às teorizações de Erving Goffman e da assim chamada Escola de Chicago.
O presente trabalho propõe-se a analisar as personagens Mula-Marmela, do conto “A benfazeja”, e Sinhá, do conto “Sinhá Secada”, que integram respectivamente as obras Primeiras estórias e Tutaméia: Terceiras estórias, do escritor mineiro João Guimarães Rosa, segundo uma proposta de alteridade: sugere-se um enfraquecimento dos limites constituintes das diferenças identitárias para uma melhor apreensão do indivíduo enquanto ser. Para tanto, propõe-se uma aproximação entre as diferentes personagens, para além das diferenças do enredo, que passa pela narrativa “Os irmãos Dagobé” e estende-se aos contos dos quais fazem parte as personagens, segundo uma ampliação do espelhamento sugerido por Consuelo Albergaria em sua obra Bruxo da linguagem no grande sertão. Consideradas as afinidades identitárias destacadas entre as personagens, a despeito de todas as diferenças contextuais, destaca-se a simbologia da cruz como símbolo máximo da exclusão. A análise se conclui com uma reflexão apoiada no pensamento de Octavio Paz, que discorre sobre os estreitos limites que separam o eu e o outro na constituição do ser, e, também, no pensamento de Henri Bergson, que questiona a separação sujeito/objeto para introduzir a ideia de uma continuidade universal e sugerir uma essência humana imperscrutável para além dos traços identitários, inclusive de gênero, como proposta de uma melhor apreensão do outro.
O termo “masculinidade tóxica” está em voga, contudo, na literatura brasileira, na década de 60 já era possível encontrar personagens que questionavam esse perfil masculino pautado na força bruta, na agressividade e na não demonstração de sentimentos de carinho e afeto. Desse modo, neste trabalho, faremos um percurso analítico acerca de alguns dos personagens criados por João Guimarães Rosa, em Primeiras estórias, mais especificamente nos contos: Famigerado; A benfazeja; Os irmãos Dagobé; Luas-de-mel e Substância, a fim de constatar como esse autor mineiro já traçava um delicado e, ao mesmo tempo, profundo questionamento sobre a figura do homem em sociedade e desse perfil de masculinidade. Assim, percebe-se que vários personagens já nos forneciam indicativos de uma masculinidade plural, como a defendida em nossa época, ou seja, que busca se afastar de modelos estáticos, pré-concebidos e estereotipados. O que, por sua vez, indica que essas narrativas proporcionam reflexões quanto a percepção e evolução da compreensão da masculinidade em nossa sociedade.
Neste trabalho, estudaremos como se dá o processo de silenciamento do sujeito feminino a partir da análise dos contos “A benfazeja”, de Guimarães Rosa, e “Rosalinda, a nenhuma”, de Mia Couto. O sujeito feminino representado pelas personagens Mula-Marmela, na narrativa roseana, e Rosalinda, no conto de Mia Couto, se encontra subjugado à violência física e simbólica, seja por parte do grupo a que pertence, seja no interior do casamento. Nesse sentido, exploraremos como os narradores trabalham a questão da violência e o distanciamento que o grupo estabelece com as personagens. Focaremos nos discursos acionados como subterfúgio para os grupos transformarem tanto Mula-Marmela e Rosalinda em bodes expiatórios. Visualizando essas estratégias, defenderemos que os grupos se reafirmam como coletividade ao localizarem dentro da comunidade sujeitos vulneráveis para onde canalizarão a violência.
Este ensaio busca trabalhar o elemento teatral na obra de Guimarães Rosa, entendendo-o como processo de representação do real por meio de sua transformação em texto/discurso, e como processo de carnavalização pela abolição da hierarquia e multiplicação das versões.
Trata-se de uma leitura dos contos "A loba", de Giovanni Verga, e "A benfazeja", de Guimarães Rosa, a partir de um mesmo motivo literário da mulher demoníaca, tendo a comparação como método, isto é, como eixo central que busca alargar a compreensão crítica das obras. Em seu percurso pelas paarticularidades histórico-estéticas desses textos, a perspectiva comparatista aqui visa - ainda que de maneira breve - à explicitação de diferenças que possam ensaiar o aclaramento da relação de tais textos com a sociedade e o momento histórico em que foram produzidos.
O objetivo deste trabalho é fazer um estudo comparativo acerca das personagens principais dos contos “A benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e de “A Rosa Caramela”, publicado no livro Cada homem é uma raça, do escritor moçambicano Mia Couto. Mula-Marmela remete à protagonista, que livra o povo de um mal que pesa sobre o lugarejo. Já Rosa Caramela é uma personagem diferente, pois age de uma maneira excêntrica e é excluída da comunidade onde reside. Busca-se a articulação entre elas pela presença nos lugares onde vivem destacando-as pelas suas diferenças, enfatizando o narrador e a construção narrativa.
O objetivo deste trabalho é fazer um estudo comparativo acerca das personagens principais dos contos “A Benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa e de “A Rosa Caramela”, publicado no livro Cada homem é uma raça, do escritor moçambicano Mia Couto. Mula-Marmela remete à protagonista, que livra o povo de um mal que pesa sobre o lugarejo. Já Rosa Caramela é uma personagem diferente, pois age de uma maneira excêntrica e é excluída da comunidade onde reside. Busca-se a articulação entre elas pela presença nos lugares onde vivem destacando-as pelas suas diferenças, enfatizando o narrador e a construção narrativa.
Tema pouco lembrado pela crítica, porque presença discreta no conjuntoda obra rosiana, a maternidade alca nça contornos literárioscomoventes, para os q uais o olhar psicanalítico pode sugerir um de seus"sentidos". Entre outros, "A benfazeja" e "Sinhá Secada" constituemtextos exemplares dos afetos maternos a resgatarem questões como luto,renúncia, barreira à sexualidade, desamparo, demanda etc. - pontos deintersecção primorosos entre Literatura e Psicanálise.
Neste artigo examina-se a narrativa “A Benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa investigando a sua contribuição para ilustrar aspectos pouco investigados acerca do conceito de cordialidade presente em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. Soma-se a essa análise uma leitura acerca das relações de poder elaboradas na narrativa que permitem verificar uma ruptura com a representação dos ideais da família patriarcal engendrada pelo soterramento do modelo ideal, banimento do poder masculino e descaracterização do papel idealizado da mulher. Nota-se, por fim, como a negação da subjetividade feminina, por parte do patriarcado, está ainda presente na estrutura social brasileira e tem alimentado comportamentos misóginos. Por tais razões considera-se que a narrativa consiste em metáfora das relações de poder entre democracia e patriarcado estabelecidas ainda hoje na sociedade e na democracia brasileira.
Este texto se propõe analisar o aforismo “Atitudes a respeito da práxis: efeito, vivência, comoção”, do livro Teoria Estética, de Theodor Adorno, na tentativa de se aproximar do sentido e da abrangência do conceito “a obra-de-arte como práxis”; e, por meio desse exercício teórico, dialogar com o conto de Guimarães Rosa, “A Benfazeja”, do livro Primeiras Estórias, investigando seu efeito social e o movimento para a maioridade dos personagens e dos leitores. Serão abordados os seguintes eixos teóricos do aforismo: a relação entre a arte e a teoria na práxis; o efeito social como a relação direta da arte à práxis e o engagement como uma força estética produtiva; a experiência de interpretação da obra-de-arte enquanto irrupção da objetividade na consciência subjetiva e formação da consciência. Em “A Benfazeja”, à luz dos eixos teóricos expostos, serão tensionados os tópicos: a reencarnação da hibris do herói trágico na debilidade física da mulher sertaneja e sua sina de salvar a comunidade, sacrificando-se a si mesma; o discurso crítico do que vem de fora, narra os acontecimentos e desenvolve tentativas de formar as consciências das pessoas do lugarejo; a exortação final do narrador na esperança de que as gerações futuras rasguem o véu de Maia e enxerguem o verum dos fatos; a arte em “A Benfazeja” como expressão de uma práxis produtiva.
Neste artigo se propõe dialogar com as reflexões filosófico-estéticas e formativas de Walter Benjamin, Theodor Adorno e Guimarães Rosa sobre a problemática da “violência e educação”, na perspectiva de problematizar e enfrentar a violência como barbárie, que perpassa as relações sociais e educacionais no atual quadro de dominação e de hegemonia do sistema capitalista neoliberal. E para realizar esse percurso, pretende-se o texto trilhar os seguintes passos: a violência reinante na escola de educação básica; Walter Benjamin e a crítica da violência; a violência nos escritos de Theodor Adorno; a violência como puro meio em A Benfazeja, de Guimarães Rosa; a violência divina na formação dos educandos.