A obra de Guimarães Rosa é um vasto manancial de onde brotam em jorro questões e imagens belíssimas, é uma fonte que nunca se esgota, e que umedece o mundo de quem a lê. Pesar de passar a página, disse um poetamigo. Leitura densa, perigosa, lenta: leintura. O verter da linguagem rosiana leva-nos por uma corrente de pensamentos, ações, cenários, que passam como um riachinho raso, pelas canelas, pedrinhas ao fundo, no meio do sertão. Cada palavra, lisa ou pontiaguda, massageia um ponto da palma do pé. Você pode atravessar a vau ou seguir o curso daquele jorro, daquele fluir da linguagem que é a obra rosiana.
Este trabalho tem por objetivo fazer uma leitura de dois contos (Lá nas campinas e Curtamão) e dois prefácios (Aletria e Hemenêutica e Nós, os temulentos), textos de Tutaméia, de Guimarães Rosa. O artigo analisa duas epígrafes de Schopenhauer, que insistem na releitura. Ambas estão em Tutaméia e têm sintonia com a noção de música tanto nesse pensador quanto na obra de Nietzsche. O pensamento nietzschiano, no entanto, apostando na música como arte do irrepresentável, através de aforismas e paradoxos, escapando ao conceitual e à metafísica de Shopenhauer, parece ser mais apropriado para a leitura de Tutaméia, obra construída numa escrita nômade, dionisíaca, numa festa em que há uma predominância do significante sobre o significado.
O presente artigo tem por objetivo demonstrar como Guimarães Rosa, no conto Páramo, de Estas Estórias, inaugura uma encenação ficcional da melancolia. O texto rosiano vai sofrendo uma gradual condensação à medida que avança e as ressonâncias melancólicas dessa narrativa funcionam como um rigoroso exercício de subtração da escrita em busca do silêncio, dando sequência às "operações subtrativas" de Tutameia.
A verificação da constituição do livro como objeto requer estudos sobre a história da composição do livro como tal. Até estruturar-se da maneira como o conhecemos o livro passa por diversas etapas em sua dimenão material, dentre elas: os paratextos, a parte pré textual, organizacional de uma publicação. Conhecer os detalhes dessa estrutura editorial contribui para a organização e a leitura de uma obra. No entanto, há autores que usam da transgressão da norma para buscar o espírito artístico. Os prefácios da obra Tutameia de João Guimarães Rosa suscitam a questão essencial deste trabalho: a transgressão do autor os torna os prefácios da obra textos ou paratextos? A trajetória para a efetiva publicação da obra mostra o quão criterioso o autor foi na sua revisão editorial e quão importante é para o leitor entender esse processo.
O presente estudo tem como proposta investigar quais são os elementos discursivos que compõem a anedota de abstração e os efeitos de sentidos gerados devido à presença recorrente desses recursos nos contos de “Tutameia- Terceiras Estórias”, de Guimarães Rosa. Para tanto, procedemos um exame da fortuna crítica, em especial, sobre o primeiro prefácio, “Aletria e Hermenêutica”, em virtude das reflexões estéticas apresentadas por Guimarães Rosa a respeito da composição da anedota de abstração e da teoria do conto, uma vez que são consideradas pelo autor como um subgênero do conto. Ademais, observamos que o conto rosiano desdobra-se em diversos planos narrativos e acessa a diferentes dimensões do real por meio desse recurso. Desse modo, parte do sentido do texto está em um plano diferente do da narrativa principal e, ao utilizar a anedota de abstração, o autor contorna a ausência da onisciência do narrador e fluxo de consciência para sugerir uma nova maneira de se aproximar das emoções e sentimentos das personagens. Com base nessa premissa, investigamos, de forma qualitativa, as principais características da anedota da abstração levando em conta as relações desse gênero com a anedota, o cômico e a estética do conto. Para tanto, foram utilizados os conceitos palavra bruta, palavra essencial e neutro de Maurice Blanchot; a definição “fora” de Maurice Blanchot, Michel Foucault e Gilles Deleuze; a concepção da vontade de verdade de Michel Foucault; os procedimentos do cômico e da linguagem cômica de Henri Bergson; e a teoria do conto de Ricardo Piglia, Cleusa Rios Passos e Regina Pontieri. Nesta pesquisa, a análise dos contos “Estória nº 3”, “Faraó e a água do rio” e “− Uai, eu?” demonstraram que a anedota de abstração é a proposta estética de Guimarães ao conto moderno, visto que há uma narrativa aparente. No entanto, são os elementos discursivos da anedota de abstração que acessam a estória secreta e revelam a outra dimensão do real nos fazendo sentir aquilo que nos deseja contar
O presente trabalho tem como objetivo investigar os rastros de budismo em produções de João Guimarães Rosa, como alguns poemas de Magma, o conto Minha gente, de Sagarana, o prefácio Aletria e Hermenêutica, de Tutaméia, e a narrativa Cipango, de Ave, Palavra, e, com base nelas, demonstrar a presença de um aspecto da filosofia budista a ideia de existência ilusória dos fenômenos em Grande sertão: veredas, condensado em um raciocínio de Riobaldo sobre a existência do diabo. Lidas através do conceito de paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, em que informações marginais de uma obra podem revelar um dado maior, as referências ao Buda e ao budismo, apontadas nessa pesquisa, explicitarão que a presença budista não é meramente periférica na obra do autor, mas, inclusive, significativa para a construção de uma proposta de leitura de Grande sertão: veredas.
O objetivo deste trabalho é analisar trechos de duas versões de um texto de João
Guimarães Rosa: “Risada e meia”, publicado no jornal Correio da manhã, em 1954, e
“Aletria e hermenêutica”, o primeiro prefácio do livro “Tutaméia (Terceiras estórias)”, de 1967. Considerando as alterações percebidas, os textos são examinados pelo
viés da Crítica Genética e da Estilística Lexical, a fim de vislumbrar um dos passos do
percurso criativo de Rosa. Para isso, optou-se pelo trecho da “Anedota fósforo”,
comum às duas versões. Alguns dos resultados encontrados foram a adição, a exclusão
e a alternância de palavras, a sinonímia, a adjetivação, a metonímia e a mudança de
tempos verbais. A Crítica Genética defende que um texto nunca é definitivo, podendo
passar por diferentes alterações até se tornar o publicado pelo editor (de livro ou de
periódico). Logo, o texto considerado final de “Risada e meia”, publicado pelo jornal Correio da manhã, do Rio de Janeiro, passou, ao longo de 13 anos, por alterações
que o transformaram em “Aletria e hermenêutica”, o prefácio do último livro publicado em vida, de Rosa. Por outro lado, isso não garante que seja a versão final, mas
mais uma das etapas de seu processo criativo. Desse modo, observamos a construção
textual do léxico de Guimarães Rosa em trechos publicados em dois momentos distintos, utilizando para isso os aportes da Crítica Genética e Estilística.
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