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Denúncia da morte de Olavo Hansen, preso em comemoração do 1º de maio
Prontuário: Pasta 50-Z-09-79. Documento 14471A
Pesquisador: Pádua Fernandes

Este documento (reservado) reproduz o panfleto Denúncia ao povo brasileiro e à opinião pública internacional: Foi assassinado, após brutais torturas, Olavo Hansen, preso no ato dos sindicatos paulistas no dia 1º. de maio no Estádio de Maria Zélia, em S.Paulo. Trata-se de denúncia, não assinada, da morte de Olavo Hansen, e convocação para seu enterro em 14 de maio de 1970. Tinha 32 anos.

Olavo Hansen era um sindicalista ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos e um dirigente do PORT – Partido Operário Revolucionário Trotskista. Ele havia sido aluno de Engenharia na Universidade São Paulo, mas deixou os estudos para se engajar na política sindical. O folheto refere-se a suas prisões anteriores, que ocorreram devido à repressão ao sindicalismo. Em 1970, trabalhava em uma indústria química em Santo André.

Em 1º. de maio de 1970, ele foi preso com outros sindicalistas, enquanto distribuía panfletos, por policiais militares, na praça de esportes da Vila Maria Zélia, em São Paulo, durante uma comemoração autorizada do dia do trabalho. Hansen foi torturado até o dia 5 de maio. Apesar dos protestos de outros presos políticos no DEOPS/SP, ele não recebeu assistência médica adequada e foi levado ao Hospital do Exército em Cambuci somente em 8 de maio, quando já estava em estado de coma. Em 13 de maio, sua família foi avisada que ele teria se suicidado no dia 9, e que seu corpo teria sido encontrado perto do Museu do Ipiranga.

A morte gerou requerimentos de investigação junto ao CDDPH – Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão ligado ao Ministério da Justiça, criado por lei no final do governo de João Goulart. O MDB – Movimento Democrático Brasileiro, partido da oposição, solicitou a investigação, a partir de denúncias de vários sindicatos, bem como Sobral Pinto, advogado que atuou em favor de vários presos políticos desde a ditadura de Getúlio Vargas.

Como aconteceu durante todo o governo Médici, o CDDPH, presidido pelo Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, manteve-se inerte diante das denúncias.

Foi instaurado um inquérito criminal em maio de 1970, por determinação do Secretário de Segurança do Estado de São Paulo. Um laudo atestava que a causa da morte era “indeterminada”; outro, posterior, que a morte foi causada pelo inseticida Paration. Afirmando que não se poderia determinar com os elementos presentes se tinha ocorrido suicídio ou homicídio, o juiz Nelson da Silva Machado Magalhães decidiu arquivar o caso em 19 de novembro de 1970, apesar das marcas de tortura terem sido apontadas no laudo.

O caso levou ainda a denúncias, em junho e setembro de 1970, junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, e, em junho de 1970, à Organização Internacional do Trabalho, por violação da liberdade sindical. O folheto conclamava a “opinião pública internacional e nacional” a se manifestar: “A opinião pública democrática do Brasil e de todo o mundo deve se manifestar maciçamente contra êste hediondo assassinato e sobretudo para parar a mão do setôr que vêm seguidamente cometendo torturas e assassinatos.”



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