Este artigo tem objetivo de refletir sobre o conto “Desenredo”, de João Guimarães Rosa, tendo como perspectiva as convergências entre a narrativa bíblica, especificamente a história de Jó, pertencente ao antigo testamento. As referências aos vários planos da cultura e pensamento universal são colocados na ficção do autor mineiro em uma dimensão que se dá no cotidiano e na ironia. Assim, nossa reflexão em torno da narrativa “Desenredo” perfaz-se na história do personagem Jó Joaquim e sua trajetória no que tange ao perigo, ao amor e a felicidade, numa abordagem irônica e corriqueira pelo sertão, o qual se insere no conjunto da obra Tutaméia, cuja valoração tem como base a comédia.
Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, de João Guimarães Rosa, colocando-se como ponto de convergência entre a personagem Mula-Marmela e as manifestações trágicas no Sertão, colocando-se como “aclimatação” a partir de diversos elementos, como o destino, a desmesura e a catarse. “A benfazeja” dialoga com a universal dimensão humana presente nos dramas gregos, sobretudo no que tange às escolhas e à relação com a comunidade, em um movimento que redimensiona as “estórias” gregas no cotidiano sertanejo.
Este artigo pretende refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, décimo sétimo conto do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Em nossa leitura, propomos a existência de um viés que dialoga com a tragédia grega antiga, aclimatado no sertão dos gerais. Assim, o diálogo com o drama grego dá-se, sobretudo, na imersão de elementos que compõem as tragédias, como a catarse e o destino (moîra), mas lido na proposta rosiana, isto é, na perspectiva do cotidiano, lugar de muitas “estórias”, as quais se ligam ao teor das temáticas humanas universais. Além disso, a narrativa perfaz-se no jogo retórico das paixões, o qual segundo Aristóteles, é peça importante no julgamento, e que nos servirá de fundamento ao pensarmos juízos de valores em relação às personagens.
Este ensaio tem o objetivo de refletir sobre a moira, destino ligado à matriz grega, em interface com as viagens e com a violência do sertão a partir do conto “Duelo”, quarta narrativa do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Trata-se de uma espécie de aclimatação do destino antigo à vivência do sujeito sertanejo, sobretudo no espaço de perseguição, de morte e de instabilidade nos gerais. Assim, esta reflexão em torno do conto do autor mineiro faz-se na leitura que instala a paisagem do sertão ao plano universalista da tradição grega: o destino.
Este ensaio tem objetivo de refletir sobre a moira, destino ligado à matriz grega, em interface com as viagens e a violência do sertão a partir do conto Duelo, quarta narrativa do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Trata-se de uma espécie de aclimatação do destino antigo à vivência do sujeito sertanejo, sobretudo no espaço de perseguição, morte e instabilidade nos gerais. Assim, esta reflexão em torno do conto do autor mineiro faz-se na leitura que instala a paisagem do sertão ao plano universalista da tradição grega: o destino.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença do trágico em Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, colocando-o como uma espécie de “aclimatação” trágica no sertão dos gerais. Para isso, abordaremos os “ecos” do drama antigo a partir do destino/ necessidade (Anánke) e violência (Bía), relacionando-os aos conflitos do sertão. A análise dar-se-á em “Fatalidade”, nono conto de Primeiras estórias. Nesse sentido, este texto tem como parâmetro o caráter universal, em que convergem para as estórias primeiras, o qual é possível encontrar-se nos mitos e narrativas literárias antigas, convivendo pelo sertão, em um estado de simplicidade, mas ao mesmo tempo capaz de emergir da riqueza em relação à importância das “estórias” que se perfazem no lugar.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença da Necessidade (Anánké) no conto “Arroio-das-antas”, do livro Tutameia (2017), de João Guimarães Rosa. Trata-se de uma “aclimatação” do destino trágico grego no sertão do escritor mineiro, em convergências que se colocam no centro do Destino e da Origem como organização do mundo, em Cosmogonia, em que na narrativa de Rosa desenvolver-se-á como alegoria. Para isso, abordaremos a “estória” a partir da crítica que considera a obra rosiana como aberta às perspectivas universais, lugar onde convivem as diversas “vozes” da cultura humana, como a grega, por exemplo, assim como possibilidades, em que se lê as narrativas hermeneuticamente, como tantos críticos já o fizeram.
Este artigo apresenta o objetivo de refletir sobre o lugar do animal na ficção de Guimarães Rosa (1908-1967). Para isto, desenvolveremos uma análise de “As Garças”, último texto do seu livro póstumo, intitulado Ave, Palavra (1970), organizado por Paulo Rónai. Em nossa abordagem, temos a intenção de interpretar criticamente a relação homem/animal, evidenciando-a como questão que corrobora uma ficção atual no que tange às discussões sobre todos os viventes. Trata-se, neste sentido, de uma literatura que realiza um diálogo permanente com a animalidade, o qual chamaremos, aqui, de zooliteratura. Em nosso trabalho, destacamos os estudos de Lucas (1972), Cunha (2013), Souza (2011), Maciel (2011) e Giorgi (2016).
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença da língua francesa em “Do Diário em Paris” e “Do Diário em Paris-III”, narrativas do livro Ave, Palavra, do escritor João Guimarães Rosa, publicado pela primeira vez em 1970. Para isso, abordaremos a língua francesa sob a perspectiva das imagens poéticas ao longo do texto, cujas construções colocam-se entre o cotidiano de Paris e as metáforas do “lieu”. Assim, nossa reflexão dar-se-á em torno das metáforas, tal como aparecem na narrativa roseana, desenvolvendo-se em breves frases, assim como no poema final, elaborado em francês, dividido em cinco estrofes, totalizando dezoito versos. Nesse sentido, propomos uma leitura do “diário” a partir de suas construções poéticas, as quais nascem do cotidiano da cidade, demarcadas em nomes de ruas, estações de trem, paisagens e relações sociais.
O presente artigo tem como objetivo abordar a presença da Necessidade e do Riso no conto “Estória nº 3”, narrativa do livro Tutameia (Terceiras estórias), de João Guimarães Rosa. Nossa reflexão colocar-se-á na inter-relação entre os sujeitos que compõe a “estória”, personagens que estão imersos numa situação de violência e competição, mas ao mesmo tempo, comandados pela “roda mestra”, que os coloca como meros “joguetes” diante da incerteza da vida. Nesse sentido, abordaremos nossa leitura na tradição crítica que considera o conjunto da ficção rosiana como universal, porque se desenvolve nas convergências que transbordam do humano, onde se encontra o seu destino, seus dramas e conflitos, emaranhados sempre da comicidade, aspecto comum de Terceiras estórias.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença de Paris como experiência poética em Ave, Palavra (2009), de João Guimarães Rosa. Para isso, analisaremos as várias imagens que se amontoam ao longo das impressões do autor diplomata no que tange à relação do homem a partir da cidade. Assim, pela impressão, o poeta toca o lugar, inserindo-o no plano reflexivo, sobretudo ao participar de experiências universais, em que há espaço para o ennui, em sentimentos que se conformam na tristeza, tédio da paisagem deprimente, em Spleen, assim como estímulo da poiesis no passeio público, em zológicos, parques e restaurantes. Neste estudo, discutiremos a presença de uma poética em Paris nos textos “Terrae Vis”, “Do Diário em Paris”, “Zoo (Jardin des plantes)” e “Zoo (Parc Zoologique du Bois de Vincennes)”.
Este artigo tem por objetivo refletir sobre a recepção de Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa (1908-1967), por Paulo Mendes Campos (1922-1991), no contexto das crônicas, no qual chamaremos, neste trabalho, de “recepção de primeiras horas”, feito em contexto de divulgação em periódico, na conhecida Revista Manchete, em 13 de Outubro de 1956, na Coluna “Conversa Literária”, nº 234. Trata-se da crônica “Grande sertão: veredas (João Guimarães Rosa)” (1956). Ressaltaremos, nesta interpretação realizada no mesmo ano de publicação do romance, sua particularidade artística, assim como analisaremos sua leitura que enfatiza os elementos internos à narrativa de Guimarães Rosa, isto é, a interseção entre o universal e o moderno no pensamento do personagem Riobaldo. Além disso, para o comentário da leitura do romance rosiano por Campos, dialogaremos com outros intérpretes da obra do escritor mineiro, quanto ao que estamos considerando como primeira recepção, como Alvarenga (1956), Candido (1956 e 1957), Milliet (1959) e Proença (1958).
Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a manifestação do sublime e da dúvida na narrativa “A Terceira margem do rio”, sexto conto do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. A presente reflexão dá-se a partir do conceito de sublime, formulada pelo filósofo Friedrich Schiller, cuja máxima encontra-se no mito de Prometeu, a clave do herói trágico. Assim, desenvolveremos uma leitura na perspectiva do trágico instaurada na vivência de um sujeito sertanejo, personagem que constrói uma canoa para viver em uma terceira margem. Entretanto, a manifestação da sublimidade intercruza-se com a incerteza ao longo da narrativa, constituindo-se na própria negação do sublime, caraterizada pela existência da dúvida, elemento fundador das narrativas do século XX.
O presente estudo pretende refletir criticamente sobre o corpo de Hermógenes, personagem do romance Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa (1908-1967). Em nossa abordagem, desenvolveremos a perspectiva do informe como questão que corrobora uma desfiguração corporal, prefigurada como da ordem do selvagem. Neste sentido, enfatizaremos o caráter moderno deste personagem, que se apresenta sem forma fixa, sendo, portanto, desmedido, sem contorno e misturado. Para isto, recorremos às reflexões de Moraes (2017), Giorgi (2016), Bolle (1998), Machado (2003), Santiago (2017) e Rosenfeld (2009). Ao lado desses últimos, consideramos, também, o pensamento de Bataille (2018), Derrida (2002) e Agamben (2017) sobre o informe, o animal e o aberto, respectivamente.
O presente ensaio tem como objetivo abordar a temática da violência no conto “Fatalidade”, de João Guimarães Rosa, sobretudo a partir das relações entre sertanejos que estão imersos em um ambiente inóspito de perseguição, guerra e crueldade. “Fatalidade” é um dos vinte e um contos que preenche o livro Primeiras Estórias, de 1962, compartilhando temas comuns no conjunto da obra de Rosa, na qual a crueldade no Sertão é uma das claves importantes para compreender a existência de um lugar em que o sujeito vive em total clima de insegurança. Dessa forma, os valores do sertanejo-jagunço nas narrativas do autor mineiro ultrapassam qualquer explicação de moralidade que se perfaz na cidade, isto é, que tem como base as leis e suas normas. Portanto, no conto prevalece sempre o mais forte, aquele que apresenta a maior força física, assim como astúcia diante das conturbadas relações sociais no Sertão.