Este trabalho analisa a obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, partindo da função de seu narrador. Para tanto, embasamo-nos no texto de Walter Benjamim intitulado O narrador, observações sobre a obra de Nikolai Leskow (1983). Entendemos que o discurso de Riobaldo resgata as características definidas por Benjamim como primordiais ao narrador por excelência. Além disso, entendemos que tal elocução, ao mesmo tempo, define o personagem e delineia a sociedade na qual vive.
Este artigo analisa a função do narrador da obra Grande sertão: Veredas de Guimarães Rosa enfocando dois aspectos principais: a ação narrativa como organizadora, afirmadora e reprodutora do universo regional coletivo, ao mesmo tempo, como reveladora e identificadora da individualidade do próprio narrador. Riobaldo apela à memória para narrar e através de suas reminiscências revela-nos quem somos como também revela a si mesmo. Para tanto, utilizamos como suporte teórico os artigos de Walter Benjamin intitulado "O narrador, observações sobre a obra de Nikolai Leskow" e o de Hanna Arendt denominado "Ação".
A aproximação das duas obras em questão, A jangada de Pedra e “A terceira margem do rio”, de José Saramago e Guimarães Rosa, respectivamente, evidencia a atitude questionadora dos autores, que ousaram buscar a diferença, o insólito, numa tentativa de destituir o absoluto. Percebe-se, nessas obras, a busca da defesa de um espaço de exceção. As narrativas se passam no “entre-lugar”, no “não-lugar”, e as personagens são marcadas pela busca de identidade e de autoconhecimento. O espaço escolhido pelos autores denota não mais o uno e o absoluto ou a bipolaridade, mas um lugar terceiro, em que as contradições e os opostos estão reunidos. Em ambas as narrativas, a travessia representa a vida e as “embarcações”, a canoa e a jangada, seriam os próprios meios de conduzi-la. Busca-se, assim, observar o mundo de um ponto de vista que permite captar da melhor forma o movimento dos fenômenos em sua pluralidade e diversidade, percebendo a cultura pós-moderna marcada sempre por um movimento emergente das margens.
A partir da ideia de que a literatura contemporânea apresenta grande variedade de estilos e que as identidades dessa estão fragmentadas e envolvidas em um mundo conturbado, é que se estrutura esta pesquisa, intentando identificar as mudanças ocorridas na forma de escritura de textos contemporâneos da Literatura Brasileira, em especial a de Minas Gerais, rastreando traços do regionalismo. Claro está que o regionalismo aqui referido em muito se diferencia do tradicional, mas é possível se pensar em sua atualização. Então, ao mudar a estrutura narrativa em termos de construção clássica das personagens, pretende-se, a partir de um estudo aprofundado das raízes regionalistas mineiras (leia-se Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa), indicar as modificações sofridas desse gênero e sua nova configuração na atualidade, na narrativa de Luiz Ruffato, com O livro das impossibilidades (2008), no que diz respeito às identidades nele representadas.
rescem cada vez mais os estudos acadêmicos sobre imigração, exílio e das relações entre alteridades, nas mais diversas áreas do conhecimento, assim como no interior da crítica e da teoria literárias. A figura do imigrante e sua representação no espaço literário despertam bastante interesse, uma vez que nos coloca diante de uma diversidade de temáticas, de questões culturais e formais, que pedem ao crítico maior sensibilidade e pluralidade de olhares. No cenário literário nacional, o surgimento da figura do imigrante está intimamente relacionado à intensificação da imigração em fins do século XIX e, sobretudo, início do XX. Nosso intuito é dar relevância a um assunto que faz parte da formação de nossa literatura e de nossa sociedade. Para tanto, selecionamos como corpus a consagrada obra de Guimarães Rosa, reconhecido mundialmente como um dos maiores escritores de língua portuguesa, a fim de mostrar que, mesmo em uma obra canônica como essa, o tema aparece recorrentemente e de forma relevante, embora ainda seja pouco explorado pela crítica. Nas narrativas sobre imigração, temas como alteridade, identidade, hibridismo e tensão entre as diferenças ganham destaque. Por isso, a análise desse tema pode ser enriquecida com o suporte das linhas teóricas culturalistas ou pós-coloniais.
O artigo apresenta uma investigação sobre a influência da filosofia existencialista na construção de uma personagem da literatura brasileira. A personagem escolhida é Augusto Matraga do conto “A hora e vez de Augusto Matraga” da obra Sagarana de Guimarães Rosa. Através de uma pesquisa bibliográfica far-se-á a análise dessa influência na construção da personagem. Partindo do pressuposto que ninguém nasce pronto e acabado, e, que assim como o ser humano é um projeto em construção, a personagem Matraga traz em si características que muito a aproxima da filosofia existencialista. Observa-se que
Rosa estabelece um diálogo entre a literatura e filosofia. Tal fato vem reforçar a importância do conhecimento filosófico na compreensão da obra literária do autor. Ao mesmo tempo vê-se como pertinente que o professor de filosofia dialogue com os demais professores na tentativa da interdisciplinaridade, o que poderá ser muito produtivo na aquisição do conhecimento.
Com base no ideal de cultura de uma coletividade é possível a identificação do sujeito com o local. O local, entendido, aqui, como região e/ou espaço de pertencimento de uma sociedade a uma esfera comum que envolve a integralização de seus membros. A partir dessa premissa, intenta-se investigar nas manifestações literárias de Brasil e Moçambique as marcas culturais que deflagram o local nas regiões dos dois países. Para tanto, o corpus investigativo debruça-se sobre a seguinte questão: Como se dá a representação humana e da terra nas tradições localizadas trazidas pela ficção? Procurando explorar tal objetivo, delimitou-se dois contos da coletânea de contos Primeiras Estórias (1967), de Guimarães Rosa e outros dois da coletânea O fio das missangas (2009), de Mia Couto a fim de estabelecer um elo entre o local brasileiro e o local moçambicano. A pesquisa possui caráter bibliográfico atrelando os referenciais teóricos aos textos ficcionais, com enfoque literário-sociológico e histórico.
Pautando-se no discurso efetivado pelo narrador-personagem, a presente análise de “O outro ou o outro” - conto presente em Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa - procura evidenciar o sentimento de alteridade por ele experimentado quando, em companhia de seu tio Dô, delegado, depara-se com um acampamento cigano, com especial destaque para a figura de Prebixim. Tanto tio Dô quanto Prebixim marcam a sua natureza dúplice. Ambos os “outros” formam o “mesmo”.
Este trabalho analisa como a identidade cultural se apresenta no romance Grande Sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), sobretudo na sua relação com o regionalismo. Para tanto, partiremos das discussões teóricas de Ribeiro (1996), Prado Jr. (2011), Debrun (1990), Bosi (2007), Candido (1999), Bolle (2004), Galvão (1986), Hall (2000) e Hollanda (2010) para rastrearmos de que forma o romance trata da mestiçagem como elemento narrativo e de constituição da identidade nacional.
O artigo caracteriza a criança a partir do personagem central da novela Campo
Geral, de João Guimarães Rosa: Miguilim. Na obra a identidade infantil é construída a partir
de passagens do livro que estão associadas às particularidades do personagem. Desde a mais
tenra idade, o indivíduo tem necessidade de pertencer a determinado grupo e sofre com a
dificuldade de aceitação pela sociedade, inclusive pela própria família. A dificuldade da
participação espontânea das crianças nas práticas sociais evidencia a exclusão e
marginalização sofrida por esse grupo há tempos e ainda na contemporaneidade. A
necessidade de um novo olhar para a criança é justificada pelo sofrimento, apresentado pelo
personagem, ao ser incompreendido e ignorado. A construção identitária da criança nesta obra
do escritor Guimarães Rosa quer chamar a atenção para este grupo, que precisa ser aceito e
acreditado como seres de personalidade e identidade próprias.