Considerando as pesquisas sobre o sagrado como fonte da compreensão do texto, este artigo analisará os aspectos relacionados ao religioso, à violência e ao sagrado no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, a partir da origem e do caráter da personagem, passando por todo seu sofrimento, sua mudança de pensamento e conduta até chegar ao momento da sua decisão de salvar a própria
alma. Toda a analise é baseada em conceitos já estudados e defendidos por estudiosos como
René Girard e Mircea Eliade.
A partir da leitura de duas passagens afins na obra de Guimarães Rosa - o julgamento de Zé Bebelo, em Grande sertão: veredas, e o duelo final de "A hora e vez de Augusto Matraga" -, este artigo discute a incorporação da experiência histórica da modernização do sertão brasileiro à prosa inovadora do autor mineiro.
Este trabalho tem por objetivo perscrutar as possibilidades de diálogo entre o
conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, e elementos pertencentes
aos universos da tragédia grega e do cristianismo. Ao deitar olhos sobre a jornada
percorrida pelo protagonista do conto, percebemos que os dois universos parecem se
entrelaçar, permitindo-nos ora uma associação a termos como hybris e Destino, caros ao
universo da tragédia, ora às histórias dos santos e mártires cristãos. Dessa forma,
buscando suporte em textos que tratam dos dois universos, procuraremos associar a
eles, sempre que possível, as errâncias de Matraga rumo à redenção.
No ano em que se comemora o cinquentenário de morte do escritor Guimarães Rosa, o presente artigo objetiva discutir de que modo a questão do sagrado se faz presente na coletânea de contos que compõe a obra Sagarana, do escritor mineiro. A proposta de leitura que aqui se apresenta será feita tendo por princípio a noção de sagrado que é defendida pelo poeta e teórico mexicano, Octavio Paz, que vê o sagrado e a poesia como exemplos de revelação poética. O livro Sagarana, primeira publicação literária de Guimarães Rosa, é composto por nove contos, no entanto, neste artigo se pretende dialogar com apenas três narrativas, por acreditar que uma leitura de todos os contos exige um trabalho de maior extensão e fôlego que requer algo além dos limites de um artigo. As narrativas objetos de interlocução aqui, portanto, são: A hora e vez de Augusto Matraga, São Marcos e Corpo fechado.
A presente pesquisa propõe uma leitura da novela A hora e a vez de Augusto Matraga de João Guimarães Rosa, publicado em Sagarana em 1946. Adotaremos como procedimento de estudo a análise da relação estabelecida entre o medo e a coragem ao longo da narrativa e as relações sociais representadas por esta série. O objetivo deste artigo é mostrar que o medo move a narrativa ao passo que os personagens, em especial Nhô Augusto, se veem aniquilados por este sentimento, mas ao mesmo tempo é dele que ganham forças para prosseguir. A partir da compreensão dessa concepção, nos empenharemos por desenvolver uma discussão sobre como a categoria do medo pode denotar determinadas relações sociais, não só de modo isolado, mas também vinculado à coragem e ao poder. Para tanto, utilizaremos como suporte teórico História do medo no ocidente de Jean Delumeau (2009) e A criação literária de Massaud Moisés (2012).
Este ensaio analisa o conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, sob a perspectiva da trajetória existencial do protagonista. Busca-se o sentido etimológico da palavra Matraga, o qual é relacionado com a conduta e o caráter da personagem, no contexto regional de que emerge. O estudo apóia-se em dados históricos sobre o coronelismo e o cangaço brasileiro.
Este ensaio de interpretação do Grande sertão: Veredas trata da forma mesclada do romance de formação com outras modalidades de narrativa, provindas da tradição oral, em consonância com o processo histórico-social que rege a realidade também misturada do sertão rosiano. O grande sertão, múltiplo e labiríntico, origem do mito e da poesia, é visto em seu desdobrarse numa espécie de mar para a existência épica: campo da guerra jagunça e das aventuras de um herói solitário, Riobaldo. Ao abrir-se o livro, esse ex-jagunço surge como o contador de casos que acaba narrando sua vida a um interlocutor da cidade e colocando-lhe questões que nenhum dos dois pode responder. O estudo descreve e tenta apreender assim a mistura peculiar que define a singularidade do livro, intrinsecamente relacionada ao mundo misturado que tanto desconcerta esse narrador, cujo desejo de saber vai além da sabedoria prática do narrador tradicional, pois envolve questões do sentido da experiência individual, típicas do romance, voltado para o espaço urbano do trabalho e da vida burguesa. Na reconstrução da mistura como um todo orgânico, em que o romance parece renascer do interior da poesia do mais fundo do sertão brasileiro, se busca tornar inteligível um verdadeiro processo de esclarecimento. Por ele, Riobaldo, ao repassar o vivido e sua paixão errante por Diadorim, se esquiva da violência mítica do demo que marcou sua existência, expondo-a à luz da razão. Isto faz da travessia desse herói problemático de romance, homem humano, um contínuo aprender a viver ? a real dimensão moderna da obra-prima de Guimarães Rosa. Palavras-chave: literatura; romance; Guimarães Rosa; Grande sertão: Veredas.
Este livro consiste na apresentação de todo um embasamento teórico so-bre a história e a conceituação da fraternidade no mundo ocidental, em duas vertentes: o legado do cristianismo e as concepções políticas do Iluminismo e da Revolução Francesa. Abrange ainda a análise do conto 'A hora e vez de Augusto Matraga', de Guimarães Rosa, e do romance Quarup, de Antônio Callado. Em relação ao conto rosiano, uma parte da análise dos pretos velhos que protagonizam a ação fraterna já se encontra no ensaio 'A fraternidade como exceção', no livro Da ignomínia à pertença, publicado pela Editora Cajuína em 2021. Trata-se do enfoque de personagens secundários, porém muito importantes no destino do protagonista. O romance calladiano também demonstra ação decisiva de personagens marginais que salvam o herói da violência sofrida por um agente da ditadura militar. Nas duas narrativas, a ação da fraternidade é a negativa da representação de uma violência secular enraizada na vida brasileira. Assim, além da análise literária, o livro mostra o quanto as reflexões sobre a fraternidade, em avanço extraordinário nos últimos anos em vários campos do conhecimento, praticamente em nada têm tocado a teoria da literatura e a crítica. ISBN: 9786586270662 | Editora: Cajuína | Autor: Arturo Gouveia
Este trabalho se propõe a estabelecer um estudo sobre o conto A hora e a vez de Augusto Matraga, buscando discutir como Guimarães Rosa, ao recriar a relação do brasileiro com o catolicismo popular, reinventa a relação filosófica do homem com a religião. Para tanto, observa-se o desenvolvimento existencial de Nhô Augusto, de sua condição de homem violento e impetuoso, para uma nova situação de Augusto Matraga, de personalidade religiosa e resignada. Assim, este artigo detém-se em analisar como o protagonista gradativamente vai se desvinculando de códigos de honra nordestinos para incorporar uma postura filosófica universal sobre a relação entre a vida e a morte na trajetória humana. A base da reflexão deste artigo é a crença popular de que o momento da morte pode ser “a hora e a vez” da redenção de um homem, sendo abordada como o clímax da narração e de renovação da personagem. Pretende-se, portanto, verificar a trajetória de transformação existencial do protagonista, desde a circunstância de pré-morte até sua consolidação, para se compreender como a prosa de Guimarães Rosa transita de uma discussão local para uma global, quando aborda medos e anseios humanos.
Do macrossistema de literaturas de língua portuguesa escolhemos as literaturas brasileira e angolana para nosso estudo com os livros Sagarana de João Guimarães Rosa e Luuanda de José Luandino Viera. Podemos considerar que nos dois autores a vegetação tem a reversibilidade presente, especialmente nas árvores que trazem a morte e o renascimento constante no ciclo da vida. A árvore que marca
o meio do mundo de Luuanda é o pé de caju como o símbolo de Angola e a do eterno recomeço. Em Sagarana é a suinã a árvore no meio do mundo pois na maioria dos contos em que a árvore aparece como uma ligação entre o homem e Deus, ela está presente com o nome de suinã, coraleira ou barbatimão, com a seiva vermelha cor de sangue. Mas tanto o cajueiro como a suinã convocam o homem para buscar as suas origens, o cajueiro fixando o homem pela raiz e a suinã ligando o homem ao universo.
Lido sob a ótica do narrador de focalização zero, "A hora e a vez de Augusto Matraga" apresenta ao leitor o itinerário do protagonista: uma jornada linear de sofrimentos, provações, transformações que conduzem a um destino final que pretende conciliar em harmonia os caminhos e descaminhos do percurso. Atenta a essa perspectiva oferecida pelo narrador, a crítica maior de Guimarães Rosa entende a estória de Nhô Augusto como uma narrativa cristã de ascese em três etapas que, embora definidas de formas diversas, poderia ser pensada em termos de pecado, penitência e redenção. O presente trabalho pretende explorar a dimensão de desvios e rupturas que perturbam esse trajeto linear e nele deixam marcas de ambiguidades e incertezas profundas. Lido dessa forma, o texto apresenta ao leitor, para além de um destino bem definido, o que Jacques Derrida chama de ?destinerrâncias?: um destino que tenta, sem sucesso, negar veredas alternativas capazes, no limite, de comprometer o final feliz da narrativa de ascese.
ste artigo procura, por meio da interpretação de parte da obra de Kierkegaard, estabelecer um estudo comparativo entre a obra de dois autores: E.T.A. Hoffmann e Guimarães Rosa. Partindo da concepção das figuras estéticas kierkegaardianas, pretende-se uma análise do percurso das personagens centrais de cada texto.
Este artigo procura, por meio da interpretação de parte da obra de Kierkegaard, estabelecer um estudo comparativo entre a obra de dois autores: E.T.A. Hoffmann e Guimarães Rosa. Partindo da concepção das figuras estéticas kierkegaardianas, pretende-se uma análise do percurso das personagens centrais de cada texto.
Este artigo discute a representaçãodo sagrado e do profano, no conto ‘’A hora e a vez de Augusto Matraga’’, de Guimarães Rosa. Através da figura do jagunço e do sertanejo, o escritor rompe com a dicotomia entre o bem e o mal tal como aventada pelo cristianismo ortodoxo e propõe uma espécie de confluência entre esses dois extremos de forma que o bem é visto como imbricado no mal e o mal imbricado no bem. Defenderemos que todo o conto é constituído baseado nesse pressuposto, cujo ápice se dá quando o herói imoral assume ares messiânicos, momento este que se configura como uma ironia de Rosa, em uma relação de intertextualidade com o texto bíblico.
O autor Guimarães Rosa mostra-se atento à importância do espaço na criação de seus enredos. Frente ao exposto, enumera-se que, focando especialmente na representatividade do elemento espacial, foram selecionados dois contos com o intuito de se desenvolver uma leitura mais aprofundada nesse sentido. Tais criações literárias - “Duelo” e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” - também são tidas como frutos de extensas observações do sertão mineiro e das mais plurais experiências de vida do autor.
O PRESENTE ESTUDO SE UTILIZA DA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA FEITA POR ROBERTO SANTOS DO CONTO “A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA”, DE GUIMARÃES ROSA, PARA REFLETIR SOBRE QUESTÕES LIGADAS NÃO SOMENTE ÀS RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS QUE DECORREM DE TAL EMPREITADA, MAS TAMBÉM PARA SUSCITAR QUESTÕES PRÓPRIAS À CONDIÇÃO DAS ARTES CINEMATOGRÁFICA E LITERÁRIA, REFLETINDO SOBRE A FORMA COMO ESSAS ARTES SE PRESENTIFICAM NO MUNDO E SOBRE A CONDIÇÃO DE SEUS RESPECTIVOS RECEPTORES, O ESPECTADOR E O LEITOR.
Entendendo a narrativa como uma negociação de sentidos, faremos uma reflexão sobre identidade a partir de marcas. A identidade na construção discursiva, no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, vale-se de dois olhares nesta reflexão: da marca tatuada no corpo de Matraga e de Matraga como marca circular da narrativa, pois Matraga é a marca da brasa que queima com ferro o corpo e também a página em branco tatuada pela escrita, o que faz do corpo, a escrita e da escrita, o corpo, ambos materializados no e pelo texto.