O artigo procura assinalar duas das principais contribuições de Antonio Candido para uma discussão que recaia, ao mesmo tempo, sobre a forma do romance Grande sertão: veredas e sobre formas políticas e sociais marcantes na história do país.
Desde a década de 1990, os estudos sobre Grande sertão: veredas que levam em conta a história social e política brasileira partem eminentemente da análise de personagens e cenas do romance como alegorias de processos vividos no país. Este artigo retoma as formulações de Antonio Candido sobre o livro para ressaltar a potência crítica de um viés interpretativo que, trazendo para o centro da reflexão a expressão do narrador, põe em discussão leis mentais e sociais que tiveram e ainda têm vigor no Brasil.
Propõe-se um exame da ficção de Guimarães Rosa por meio das contribuições teórico-metodológicas legadas por sua recepção crítica. Com a sua formulação do conceito de supra-regionalismo, Antonio Candido denota a simultânea ruptura que faz a criação rosiana, primeiro com o sertão factual, depois com a temática regional da Literatura Brasileira, tendência estética historicamente marcada pelo exótico e pictórico. Por fim, o artigo ressaltará, sob a ótica da Estética da Recepção, a importância do leitor para a (res)significação da narrativa ficcional.
Em sua vasta obra, Antonio Candido defende de maneira consistente a compreensão da literatura como um fator de humanização. Essa noção parte de um pressuposto evolucionista que associa humanização a civilização e segundo o qual diferentes grupos de pessoas estariam em diferentes estágios de desenvolvimento, sendo mais civilizados aqueles que superaram um estado de simbiose com a natureza. De acordo com essa perspectiva, a literatura desempenharia um papel fundamental no processo de distanciamento entre o homem e o mundo natural. O objetivo deste ensaio é confrontar a visão de Candido a duas narrativas de Guimarães Rosa: Meu tio o iauaretê (1961) e A terceira margem do rio (1962), para problematizar a função humanizadora da literatura advogada pelo crítico.
Propomos demonstrar que as principais possibilidades de abordagem da obra de Guimarães Rosa foram, pioneiramente, traçadas ou levantadas por Antonio Candido. Para tanto, tomamos como base dois textos seminais sobre Grande sertão: veredas: “O homem dos avessos” e “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa”. Nesses e em outros ensaios e resenhas, o crítico traz as ideias que têm balizado os estudos sobre Guimarães Rosa. Embora Antonio Candido seja considerado como o fundador da vertente crítica sócio-histórica da obra do escritor mineiro, consideramos que outras abordagens como a metafísica, a mítica, a linguística, a psicanalítica têm também seu nascedouro nos seus textos.
Esta dissertação consiste no estudo da categoria do “super-regionalismo” proposta por Antonio Candido em “Literatura e subdesenvolvimento” (1970). Investiga, ainda, a leitura crítica elaborada por Antonio Candido do romance Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, especialmente em “O Homem dos Avessos” (1957) e “Jagunços mineiros, de Cláudio a Guimarães Rosa” (1970). Sugere-se, então, que a proposição teórica de Antonio Candido, associada à análise que elabora do romance rosiano, reitera hierarquias sociais e culturais que, por sua vez, veem-se perturbadas e mesmo questionadas pela obra de Guimarães Rosa
O objetivo desta tese consiste em verificar a evolução da fortuna crítica de Grande sertão: veredas. Os pressupostos do enfoque escolhido inscrevem-se na perspectiva histórica que rege a concepção de sistema literário teorizada por Antonio Candido em Formação da literatura brasileira, de 1959. Tomando como ponto de partida os escritos do mesmo Antonio Candido sobre Guimarães Rosa, o propósito é analisar as relações de descendência e de renovação que com eles estabelecem duas linhagens da crítica: os ensaios sociológicos, historiográficos e políticos e os ensaios de estrutura, composição e gênero. Foram examinadas as fases que se sucederam na recepção crítica de Grande sertão: veredas e o processo de internacionalização das leituras do romance, em particular sua recepção na França. Fez-se o levantamento de alguns dos conceitos mais salientes do projeto crítico de Antonio Candido e seus desdobramentos na crítica literária brasileira. Os escritos de Antonio Candido sobre Guimarães Rosa analisados são: as resenhas de Sagarana e de Grande sertão: veredas, o ensaio pioneiro sobre o romance, ―O homem dos avessos‖, ―Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa‖, ―Literatura e subdesenvolvimento‖ e ―A nova narrativa‖. No que se refere aos ensaios sociológicos, historiográficos e políticos sobre o romance, foram investigados: As formas do falso, de Walnice Nogueira Galvão, grandesertão.br, de Willi Bolle, Lembranças do Brasil, de Heloisa Starling, O Brasil de Rosa, de Luiz Roncari. Quanto aos ensaios de estrutura, composição e gênero, destacam-se: ―Grande sertão: a fala‖ e ―Grande sertão e Dr. Faustus‖, de Roberto Schwarz, ―O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa‖, de Davi Arrigucci Jr., ―Veredas-Mortas e Veredas-Altas: a trajetória de Riobaldo entre pacto demoníaco e aprendizagem‖, de Marcus Mazzari. Metodologicamente, este trabalho orienta-se pelos estudos comparativos, mas com uma especificidade: o objeto de comparação é a crítica e não a criação literária. São apurados o método crítico e os fundamentos de cada ensaio em sua integridade. Entendendo que tais leituras interagem no tempo, procuramos desvendar o movimento dialético de aproximação e distanciamento operado entre elas.