Estudo de três contos de Sagarana e de fragmentos de Grande sertão: veredas, orientado pela perspectiva dos estudos culturais, cujo foco é a representação de determinadas formas de manifestação de violência vinculadas aos paradigmas de honra e vingança (presentes no imaginário da cultura popular do sertão mineiro), através de uma metodologia interdisciplinar inerente à análise das relações entre literatura e identidade
cultural.
O artigo investiga as marcas dos diferentes sentidos do tempo que configuram o substrato do conto “A volta do marido pródigo” de Guimarães Rosa. São apresentadas três diferentes abordagens sobre o tempo: a primeira enfatiza a dimensão universal e mítica da obra; a segunda coloca o foco em uma dimensão sócio-histórica, que retrata a sociedade na época. Em seguida, é proposta uma terceira abordagem, menos explorada pelos críticos em geral, que procura analisar a dinâmica social retratada por meio da trama, com base na premissa de Gurvitch de que existe um tempo para cada formação social.
Ao longo do período de colonização e até o início do século XX na região das minas no Brasil, houve uma dupla articulação de fluxos, que gerou especificidades na organização econômica e social: a ligação com as vias inter-regionais movimentou uma economia exportadora, enquanto, na região, organizou-se uma economia de abastecimento, por meio de uma rede de caminhos regionais e vicinais. O conto de Guimarães Rosa descreve o momento da transição, no qual esta estrutura duplamente articulada estava prestes a ser rompida: a construção da estrada entre São Paulo e Belo Horizonte significa, não apenas a ligação entre os dois importantes centros, mas anuncia, por onde passa, uma transformação no sertão e sua incorporação aos fluxos inter e extra regionais, dentro de uma dinâmica de globalização.
A constituição humorística de Sagarana (1946) fornece a base desta tese de doutoramento, em Literatura Brasileira. Assim, tem-se como corpus de análise contos desta obra do escritor João Guimarães Rosa (1908 1967), e, embora privilegiando-a como um todo, no conjunto de suas nove narrativas, foram selecionadas três delas para análise e composição dos capítulos deste estudo, a saber: O burrinho pedrês, Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo e Corpo fechado. A abordagem estabelece a intersecção de duas vertentes de constituição e construção da obra: uma, no plano formal, corresponde aos recursos expressivos de comicidade, realizados através de procedimentos de humor, ironia, paródia, sátira, e outros. Para tanto, a fundamentação teórica centra-se, basicamente, nas reflexões de autores como Bergson, Propp, Pirandello, Freud. A outra, no plano temático, orienta-se pela representação da sociedade plasmada nas narrativas e a correspondência desta representação com a realidade nacional, como relações de poder, de violência, de submissão, instituições de Estado, e outros. Críticos do autor que realizaram abordagem sob tal enfoque foram selecionados como referência. A investigação revelou, finalmente, que nesta obra seminal do autor mineiro já se configuravam as linhas mestras de um projeto literário e uma visão de mundo, perpassados pelo humor. E mais, sob a leveza do véu humorístico, o autor realiza profunda reflexão acerca da sociedade (brasileira), do mundo e do homem (humano).
Este trabalho tem por objetivo o estudo de aspectos da cultura popular e do foco narrativo nos contos O Burrinho Pedrês , A Volta do Marido Pródigo , São Marcos e Corpo Fechado inseridos em Sagarana, livro do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) publicado em 1946. Além de uma abordagem teórica do conto, compreendido como gênero ficcional multifacetado, contemplaremos o recorte da representação social enquanto elemento literário e o papel do narrador na legitimação de valores da cultura popular relativos a códigos de honra existentes no âmbito da comunidade rural literariamente representada em cada uma das estórias destacadas. Em relação a este aspecto, tentaremos demonstrar a postura de comprometimento da voz que narra com determinados valores do universo cultural popular enfocado no corpus analisado.
O presente trabalho tem como base teórico-metodológica a Estética da Recepção, corrente de teoria literária surgida no final da década de 1960 em oposição aos dogmas marxistas e formalistas, na medida em que eles ignoram o papel do leitor enquanto principal destinatário da obra literária. A pesquisa está centrada em uma abordagem hermenêutica e embasada em uma leitura que relaciona a literatura e a sociedade, tendo em vista que é possível encontrar ecos de ideais humanistas dentro da obra como um todo, mas, principalmente, dentro dos contos que serviram de corpus para este estudo. Desse modo, seguindo o viés metodológico postulado por Jauss (1921-1997), no qual o sentido da obra deve ser buscado dentro de uma constituição dialética entre o próprio texto e o leitor, este trabalho traça um exame dos contos “A volta do marido pródigo” e “Minha gente” de Sagarana, sobretudo no que concerne aos vínculos temático-formais e à análise da construção dos personagens dos contos mencionados. Nestas narrativas, é possível identificar lides políticas e amorosas que se desenvolvem paralelamente ao longo da trama, em linhas gerais, é retratada a forma do exercício da política partidária e das relações familiares no Brasil do início do século passado, cada conto molda essas temáticas à sua própria maneira, um de forma mais cômica, privilegiando os aspectos políticos e sociais, outro enfatizando as relações familiares. Em “A volta do marido pródigo”, depara-se com um protagonista de evidente procedência folclórica, dentro de uma narrativa que dialoga com a parábola do filho pródigo e com a fábula esópica do cágado e do sapo. Em “Minha gente” encontra-se uma história em que é estabelecida uma relação entre a vida dos personagens e o jogo de xadrez. Embora guardem diferenças significativas entre si, as narrativas que aqui nos servem de corpus possuem muitos aspectos em comum. Este trabalho levou em consideração estudos já consolidados acerca de Sagarana como o é o de Álvaro Lins em Mortos de sobrecasaca, bem como outros, mais recentes, de pesquisadores como Luiz Roncari (O Brasil de Rosa: o amor e o poder), Gilca Seidinger (Guimarães Rosa ou a paixão de contar: narrativas de Sagarana), Nildo Benedetti (Sagarana: o Brasil de Guimarães Rosa) e Sílvio Holanda (Rapsódia Sertaneja: leituras de Sagarana).
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
A presente tese analisou a representação dos personagens estrangeiros na obra de João Guimarães Rosa. Observou os elementos narrativos que os caracterizam, configurados pelos processos de troca e assimilação cultural. “O estrangeiro em conflito com o sertanejo” verifica os casos dos estrangeiros em situação de embate com o nativo, em “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”, “Faraó e a água do rio”, “O outro ou o outro” e “Zingarêsca”. “Trocas afetivas” trata do romance rosiano, Grande sertão: veredas. Nele, verifica como os estrangeiros participam da formação social do narrador protagonista. “Traduzindo o sertanejo” revela como a tentativa de compreensão do nativo, em “O recado do morro”, torna-se fator indispensável para a solução do enigma que o próprio recado carrega. “Nostalgia do estrangeiro” examina os contos “O cavalo que bebia cerveja”, “Um moço muito branco” e “Orientação”, a fim de observar a passagem do estranhamento à saudade que marca a enunciação. Por fim, confirmou a tese de que as personagens estrangeiras são aceitas pelo sertanejo de modo cordial. Por isso, desempenham papel ativo na composição deste sertão mundo de Guimarães Rosa. Seja como elemento que reforça as características sertanejas através do contraste ou pelas trocas materiais e imateriais que realiza com o homem do sertão.
O presente trabalho apresenta um estudo analítico/comparativo do conto “A volta do marido pródigo”, extraído da obra Sagarana, de Guimarães Rosa com a Parábola do Filho Pródigo, encontrada no Novo Testamento, narrada em Lucas 15.11-32, comparando-o, formal tematicamente, fato que revela seu caráter intertextual. Propõe-se neste estudo uma reflexão acerca da relevância da análise da Bíblia tanto para o seu próprio conhecimento literário quanto para a constatação da mesma como referência consagrada para muitas obras que se tornaram marcos na literatura ocidental, como é o caso do conto selecionado neste trabalho, que configura uma expressão artística de um gênero discursivo pouco estudado na atualidade, que pode se constituir em uma ferramenta muito útil no processo de ensino/aprendizado. Para isso, tem-se como base teórica uma bibliografia referente à intertextualidade, ao estudo literário da Bíblia, ao gênero do discurso da parábola e à crítica e análise literária.
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