No presente estudo se interpreta o conto “Os cimos”, da obra Primeiras Estórias (1962), de João Guimarães Rosa, em diálogo com o episódio de Grande Sertão: Veredas (1956) em que Riobaldo e Diadorim realizam a travessia do rio São Francisco. A interpretação se faz à luz da viagem-travessia empreendida pelo homem, em seu percurso existencial, como motivo de aprendizagem constante da experiência de viver. Para o desenvolvimento deste trabalho, contou-se com a contribuição de Benedito Nunes (2009), para quem o homem é a viagem e a própria travessia acontecendo, na qual incessantemente se desvela o sentido da existência.
Interpretação da primeira e da última estórias da obra Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, tendo como orientação teórica básica a estética concreta de Gaston Bachelard e suas noções-chave: a imaginação material e dinâmica, a isomorfia das imagens e o método ritmanalítico.
Este trabalho busca demonstrar, em “As margens da alegria” e “Os cimos”, respectivamente os contos inicial e final de Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa, como um percurso de crescimento de Menino, protagonista de ambos, se dá no confronto entre um “mundo idealizado” e a percepção que ele tem do “mundo real”, num primeiro momento, e, num segundo momento, na reconstrução individual do seu olhar em relação à vida, o que o permite recuperar algo que foi perdido nesse choque entre o idílico e a realidade prosaica. Esse processo de aquisição da experiência, que confere modernidade aos contos, só se concretiza, como tentaremos explicitar, em razão do seu chão histórico, que exerce importante papel na produção de sentido das estórias.
Este ensaio discute as representações da infância em contos de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, a partir das relações familiares, do medo e da descoberta da sexualidade.
Os contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, primeiro e último, respectivamente, do livro Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa são analisados comparativamente objetivando investigar o olhar da personagem infantil em relação ao espaço ao seu redor. Ambos os contos trazem a figura de um Menino que se desloca de casa para um lugar onde uma grande cidade está em fase de construção. Acredita-se que o espaço seja um elemento que possibilita conceber a imersão dessa personagem, enquanto sujeito perceptivo, em um mundo socialmente partilhado. Dessa forma, a análise feita se sustenta em teorias que discutem o espaço ficcional enquanto materialização das experiências humanas, nos contos, mais especificamente, das percepções e experiências da personagem infantil.
Este trabalho objetiva tratar do tema da infância na obra de Guimarães Rosa, tendo como ponto de partida os contos de abertura e encerramento de Primeiras estórias, publicado em 1962: “Nas margens da alegria” e “Os cimos”. Os contos apresentam uma estrutura semelhante, em que a personagem infantil, identificada como “menino”, viaja de avião para a cidade de Brasília em companhia do tio. Como toda viagem, esta depreende o contato com um mundo novo, em que várias descobertas no âmbito real e no simbólico promovem um processo de amadurecimento psíquico na criança. Essa estrutura básica, na qual o motivo da viagem tem particular importância, pontua a aderência de Rosa a uma tradição literária que remonta ao “romance de formação” alemão. Considerando a remodelação dessa forma literária a partir de seu pressuposto temático-formal fundamental, a viagem e sua potencialidade no desenvolvimento do eu no encontro/contato com o outro, propõe-se uma leitura dos contos, na qual o tema da “viagem de formação” ganha destaque e a figura infantil alcança lugar
central na narrativa brasileira moderna.
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Este trabalho procura acompanhar a trajetória de personagens infantis de Guimarães Rosa e de Raduan Nassar, a fim de compreender os textos literários à luz de sua época – o Brasil da segunda metade do século XX. O objetivo é analisar se, nesses autores de obras consideradas tão universais, existe a particularidade brasileira em primeiro lugar nas narrativas. Para tanto, procedeu-se aos estudos dos ritos de passagem pelos quais passam essas crianças, observando também os movimentos do narrador de aproximação ou de afastamento desses personagens. Aponta-se, por fim, as marcas do país – a condição social, a situação política do período e também os próprios costumes – como elementos importantes na constituição dessas obras.
A proposta desta dissertação é estudar a rememoração na obra Primeiras estórias (1962), de
João Guimarães Rosa, tendo, como suporte teórico, a teoria da reminiscência de Platão. Para o
filósofo, a alma é imortal, pois sempre renasce em diferentes corpos. E quando uma pessoa
aprende algo ocorre uma rememoração, porque há apenas a recordação de um saber já
adquirido pela alma no mundo das ideias. Pretende-se, com base nessa teoria de Platão,
compreender os acontecimentos considerados misteriosos nas estórias rosianas, por se
distanciarem da lógica tradicional, e os comportamentos enigmáticos dos personagens. Por
serem muitas as narrativas que compõem o livro Primeiras estórias, restringiu-se o corpus a
sete contos: “A terceira margem do rio”, “A menina de lá”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”,
“Nenhum, nenhuma”, “Um moço muito branco”, “As margens da alegria” e “Os cimos”.
A proposta desta tese é refletir sobre a infância, tendo em vista a problematização de conceitos paradigmáticos sobre o tema, via de regra, impregnados dos sentidos de falta, carência e incompletude. A abordagem cristalizada da infância como um estado precário, provisório e lacunar é equacionada neste trabalho cujo desafio é lançar outras propostas de leitura para o tema, dentre as quais o tratamento da infância como acontecimento, ligado à esfera do novo e da criação. Para tal discussão, este trabalho ancorou-se especialmente nos textos teóricos de autores como Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Gilles Deleuze, com o propósito de pensar sobre as possíveis relações entre a literatura e a infância. Tais relações se pautaram nos contos "Jardins e Riachinhos", de Guimarães Rosa. Para explorar este modo de ver a infância buscamos convergências de narrativas rosianas aqui exploradas com textos de Manoel de Barros, Bartolomeu Campos Queirós e Graciliano Ramos. A partir de imagens literárias desses escritores foi-nos possível identificar uma poética da infância ou infância da escrita. Trata-se de escritas tecidas pelo viés de criação e desvelamento, a partir de um contínuo brincar com as palavras. O infantil na literatura foi explorado não somente como um tema, mas principalmente como uma estrutura, ou seja, uma maneira de se escrever e dar a ver a infância em seu contínuo e criativo devir, subvertendo-se, assim, a idéia de que a infância se reduz a um tempo da carência, lacunaridade e insuficiência.
Instituto de Psicologia, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a universalidade do tema da ambivalência ao analisar sob a ótica da psicanálise personagens de alguns contos de Guimarães Rosa. Dois livros da obra de Guimarães Rosa foram analisados: Primeiras Estórias e Tutaméia. Destes, quatro contos foram selecionados para interpretação: Desenredo, Se Eu Seria Personagem, Os Cismos e A Terceira Margem do Rio. Buscou-se apontar o conceito de ambivalência da psicanálise, como sintoma e como fator constituinte do psiquismo. Foi proposta uma reflexão acerca da relação entre psicanálise e literatura. Apontamos temas fundamentais da técnica e da teoria psicanalítica, como luto, transitoriedade e fantasia. Compreendemos como a ambivalência se apresenta nos personagens dos contos selecionados. A metodologia aplicada foi o uso do método psicanalítico para a interpretação de textos, no qual o psicanalista se coloca em uma leitura flutuante, atento às perturbações que a escrita provoca no leitor. Estudos e teorizações da psicanálise freudiana, kleiniana e winnicottiana, e de psicanalistas contemporâneos trouxeram aportes para o estudo da ambivalência e de outras temáticas importantes na análise dos contos. Conclui-se que os personagens dos contos de Guimarães Rosa conseguem retratar esta dinâmica interna do sujeito: ambivalência e constituição psíquica, o que possibilita a universalização da temática e a abertura de novas discussões, por se tratar de uma questão essencial da constituição do sujeito. A compreensão desse sujeito no mundo possibilita novas formas de ajuda a esse sujeito, que é o que fundamentalmente a psicanálise busca: entendimento, possibilidades de elaboração, modificação dos sofrimentos e sintomas.
A discussão entre as semelhanças, diferenças e inter-relações entre história e
literatura, realidade e ficção, permeia as obras de muitos especialistas de ambas as áreas há
muito tempo. Vocábulos como estória e história foram – e ainda são, em alguns contextos –
usados, no Brasil, com diferentes significados: estória referir-se-ia a ficções, algumas vezes
mirabolantes e inverossímeis, e história trataria do real. Na obra rosiana a História e a Estória
coexistem em perfeita harmonia. As fronteiras entre o histórico e o mito são tênues, quase
imperceptíveis. Em suas narrativas, a realidade brasileira, a religiosidade, as tradições
populares – as histórias – estão inseridas nas “estórias” de forma suave e inseparável. Nesta
comunicação pretendemos refletir sobre as possíveis relações, empreendidas por Guimarães
Rosa, entre a história e a estória nos contos “Nas margens da alegria” e “Os cimos” de
Primeiras estórias, livro publicado em 1962.
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