Este artigo pretende analisar a questão da temporalidade nos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, observando questões relacionadas à narrativa. Há que enfatizar que este estudo não visa à identificação de todos os “tipos” de tempo, mas procura verificar em que medida ele – o tempo – se apresenta como uma categoria importante do processo narrativo.
Este trabalho analisa contos de Guimarães Rosa de Sagarana (1972) e Primeiras estórias (1972) em que aparecem personagens infantis, para compreender em que medida o espaço da natureza contribui para o aprendizado no percurso de formação da criança-aprendiz. No percurso das personagens infantis, a força da natureza exerce papel fundamental: para Tiãozinho, no conto “Conversa de bois”, ela está representada na participação ativa dos bois que intercedem, magicamente, em favor do menino; em “As margens da alegria” e “Os Cimos”, as descobertas do Menino acontecem, sobretudo, pela observação da natureza que se alterna de acordo com a sensibilidade da personagem em face dos acontecimentos; nanarrativa de Brejeirinha de “Partida do audaz navegante”, a paisagem passa a integrar a história inventada pela contadora-criança. As análises são realizadas a partir de pressupostos teóricos da narrativa, da filosofia e da tradição crítica sobre Guimarães Rosa.
Os contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, primeiro e último, respectivamente, do livro Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa são analisados comparativamente objetivando investigar o olhar da personagem infantil em relação ao espaço ao seu redor. Ambos os contos trazem a figura de um Menino que se desloca de casa para um lugar onde uma grande cidade está em fase de construção. Acredita-se que o espaço seja um elemento que possibilita conceber a imersão dessa personagem, enquanto sujeito perceptivo, em um mundo socialmente partilhado. Dessa forma, a análise feita se sustenta em teorias que discutem o espaço ficcional enquanto materialização das experiências humanas, nos contos, mais especificamente, das percepções e experiências da personagem infantil.
In the present article, I locate an implicit environmentalism João Guimarães Rosa’s writing from the 1950s and 1960s. This sensibility is easy tomiss, in part because it transposes political debates on damage inflicted in thename of development and progress onto the affective-ethical plane; however, it does so in a way that resists sentimentality or projecting a misplaced innocenceonto the non-human world. Focusing on emotional relationships between humansand non-humans, I read “As margens da alegria” and “Os cimos” as expressingan eco-critical discourse that was already latent in Grande sertão: veredas.Recasting the natural world as a site of both unfathomable otherness and relationsof tenderness, Guimarães Rosa presents the emotional hold that nature has onhumans and the cost of cleaving oneself from it—a cost that includes diminishingthe human capacity for delight, wonder, and eros.
Interpretação da primeira e da última estórias da obra Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, tendo como orientação teórica básica a estética concreta de Gaston Bachelard e suas noções-chave: a imaginação material e dinâmica, a isomorfia das imagens e o método ritmanalítico.
Este estudo aponta para a existência de um elo profundo de ligação entre os contos "As Margens da Alegria’", "Os Cimos" - contos-moldura de Primeiras Estórias - e "Nenhum, Nenhuma". Essas narrativas são tecidas pelas mãos de um narrador que se defronta com a experiência da morte - não só da morte física, mas a do esquecimento, a das perdas afetivas - e do lento devorar do tempo, que vai consumindo o passado, a memória, que esse contador de estórias tenta resgatar. Ele configura sua travessia, em busca de seu próprio eu, por meio da linguagem, da memória, da tensão entre passado, presente e futuro, com a conseqüente fusão desses tempos, e da mímesis enquanto aprendizado de vida e de morte.
A proposta da dissertação é fazer um estudo das esferas da recepção da obra de Guimarães Rosa, a fim de traçar uma história das leituras desde o lançamento de Sagarana (1946). Tal trajeto busca identificar as marchas e contramarchas da crítica, as linhagens privilegiadas e as relegadas a um plano inferior, durante o século XX, pela mídia impressa (dos jornais de época aos mais recentes trabalhos acadêmicos no Brasil e no exterior) e não impressa (traduções para o cinema/televisão, música/contadores de estórias, teatro/artes plásticas e Internet). Na parte final, procura-se analisar os contos extremos de Primeiras estórias, verificando como aparecem ficcionalmente retratadas as ambigüidades da modernização "rurbana" no Brasil.
O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.
A proposta desta dissertação é estudar a rememoração na obra Primeiras estórias (1962), de
João Guimarães Rosa, tendo, como suporte teórico, a teoria da reminiscência de Platão. Para o
filósofo, a alma é imortal, pois sempre renasce em diferentes corpos. E quando uma pessoa
aprende algo ocorre uma rememoração, porque há apenas a recordação de um saber já
adquirido pela alma no mundo das ideias. Pretende-se, com base nessa teoria de Platão,
compreender os acontecimentos considerados misteriosos nas estórias rosianas, por se
distanciarem da lógica tradicional, e os comportamentos enigmáticos dos personagens. Por
serem muitas as narrativas que compõem o livro Primeiras estórias, restringiu-se o corpus a
sete contos: “A terceira margem do rio”, “A menina de lá”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”,
“Nenhum, nenhuma”, “Um moço muito branco”, “As margens da alegria” e “Os cimos”.
Neste trabalho, parte-se do pressuposto de que as personagens infantis, em diferentes narrativas, realizam a trajetória de formação que caracteriza sua inserção no mundo adulto. Essa caminhada para o conhecimento e a maturidade permite aproximar o conjunto de narrativas rosianas, cujo tema é o universo infantil, às narrativas denominadas de romance de formação. O objetivo é mostrar que a trajetória de aprendizado não se faz sem conflitos; o imaginário infantil entra em confronto direto com o mundo adulto. De um lado, o espaço exterior da natureza torna-se modelar, ensina lições, contribuindo para o processo de amadurecimento da personagem; de outro, o espaço interior - ora vislumbrado pela voz do narrador, ora pela voz da personagem - reflete os medos e incertezas dessa passagem. Em sua trajetória de aprendizagem, as personagens descobrem as dores da perda desde pequenos acontecimentos até a morte de entes queridos. Os ensinamentos também chegam pela natureza, que está em contato direto com as personagens, tornando-se espaço de refúgio para a dor de conhecer a existência. Para examinar tais conflitos do imaginário e a formação das personagens infantis em Rosa, foram selecionados os contos Conversa de bois, de Sagarana, Os cimos, As margens da alegria, Partida do audaz navegante, Pirlimpsiquice, Nenhum, nenhuma, de Primeiras Estórias e Campo geral, de Manuelzão e Miguilim. Observa-se, no tratamento dispensado ao mundo infantil, de Sagarana aos contos de Primeiras Estórias - obra que se constrói em narrativas curtas, propiciando certo hermetismo em muitas delas - a formação da criança, apresentada no plano da história e do discurso.
A discussão entre as semelhanças, diferenças e inter-relações entre história e
literatura, realidade e ficção, permeia as obras de muitos especialistas de ambas as áreas há
muito tempo. Vocábulos como estória e história foram – e ainda são, em alguns contextos –
usados, no Brasil, com diferentes significados: estória referir-se-ia a ficções, algumas vezes
mirabolantes e inverossímeis, e história trataria do real. Na obra rosiana a História e a Estória
coexistem em perfeita harmonia. As fronteiras entre o histórico e o mito são tênues, quase
imperceptíveis. Em suas narrativas, a realidade brasileira, a religiosidade, as tradições
populares – as histórias – estão inseridas nas “estórias” de forma suave e inseparável. Nesta
comunicação pretendemos refletir sobre as possíveis relações, empreendidas por Guimarães
Rosa, entre a história e a estória nos contos “Nas margens da alegria” e “Os cimos” de
Primeiras estórias, livro publicado em 1962.
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