Este trabalho tem por objetivo analisar a condição de proprietários das personagens Paulo Honório e Riobaldo, protagonistas dos romances S. Bernardo e Grande sertão: veredas, escritos por Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa, respectivamente. Vamos investigar o percurso que ambos traçaram para sair da condição de pobreza e serem alçados ao posto de donos de terras, os mecanismos de violência que empregaram e a maneira como lidam com seus dependentes. Tentaremos demonstrar como a formação desses proprietários se deu em um momento no qual o país vivia um processo de modernização conservadora, totalmente dissociado da inclusão social. Dessa forma, eles não hesitarão em empregarem violência, práticas clientelistas e presentear seus dependentes com migalhas, para conseguirem e assegurarem suas propriedades.
Se, como propõe Dominique Maingueneau, o romance pode ser consi-derado um macroato de fala ficcional, o mapeamento das posições das vozes narrativas e pontos de vista no espaço reconstruído pela narrativa adquire importância especial para a análise geocrítica. Este artigo analisa alguns regimes geoestratégicos do romance brasileiro no quadro histórico da conquista territorial do sertão pelas cidades no século XX, com destaque para a participação da cartografia no repertório espacial de romancistas selecionados.
Este texto objetiva discorrer sobre o regionalismo brasileiro e suas diferentes faces na literatura. Para isso, são analisadas as obras São Bernardo, de Graciliano Ramos, A hora da estrela, de Clarice Lispector, e A Terceira Margem do Rio, de João Guimarães Rosa. Tais obras trabalham com diferentes aspectos e pressupostos desse regionalismo. Em São Bernardo, tem-se a premissa de que os homens são produzidos pelo meio físico; em A Terceira Margem do Rio, Guimarães, por meio daquilo que se poderia denominar de “super-regionalismo”, trata de problemas universais; e, em A hora da estrela, Clarice parte do regional de uma forma explícita ao tomar como protagonista uma retirante nordestina, mas, semelhante a Guimarães Rosa, ela utiliza essa matéria regional para discutir questões daquilo que é interior ao nordestino e, também, ao ser humano de uma maneira geral.
Este breve estudo pretende problematizar alguns aspectos importantes das obras de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa - São Bernardo e Grande sertão: veredas - que, inseridos em nossa história literária, buscaram, por meio de recursos estéticos diversos, transfigurar uma realidade difícil de ser abarcada, tentando identificar o que essas obras têm a nos dizer enquanto narração de um país que ainda está em busca de encontrar seu próprio caminho no mundo. Pretende-se, então, refletir alguns aspectos dessa relação entre literatura e nação, principalmente como a literatura pode dar a ver, por meio de sua transfiguração da realidade, os mecanismos que regem a sociedade, em especial as forças que se estabeleceram nas diversas fases de nosso processo de modernização.
Este artigo tem por finalidade refletir sobre as contradições entre a forma literária – em seu processo de composição, ou seja, o trabalho do escritor – e o processo social, principalmente nos problemas que surgem na representação do outro de classe nas narrativas de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Buscou-se estabelecer na própria narrativa como São Bernardo e Grande sertão: veredas formularam questões acerca do problema da representação em nações periféricas.
Instituto de Letras, Departamento de Teoria Literária e Literaturas
S. Bernardo, de Graciliano Ramos, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, tratam da modernização por meio da tentativa de resgate de um modo ainda arcaico de relação social e da linguagem popular. Demonstram, em sua forma, a dialética entre o local e o universal em âmbito literário e em sua realização na sociedade brasileira. Dentro da importante relação entre a forma literária e o processo social, a partir das relações dos narradores, Paulo Honório e Riobaldo, com seus personagens, inseridos na narrativa de momentos da modernização do país, buscou-se trabalhar nesta dissertação questões de distanciamento e aproximação entre as formas estéticas, seus períodos históricos e suas manifestações literárias, na busca por verificar a relação que se estabelece entre esses autores e o sistema literário brasileiro, dentro da evolução da narrativa regionalista ficcional, bem como para se perceber o que levou e que resultados possíveis essas narrativas possuem no sentido em que são percebidas como construções de significação do real. Para o aprofundamento nestas questões, buscou-se um estudo da construção e do papel do narrador em S. Bernardo e em Grande Sertão: Veredas, na tentativa de assim aproximar mais a obra do processo de formulação literária da história nacional, intimamente relacionada com as tentativas de modernização econômica, política e social. A partir de uma dupla temporalidade, na forma estética e na história brasileira, mostra-se, então, a narração de um processo mediador da história da nação, percebido pela perspectiva particular de seus narradores. Como caracterização da literatura moderna, o autoquestionamento se apresentou em S. Bernardo e em Grande Sertão: Veredas como parte necessária de compreensão da história nacional e fundamentação do trabalho do escritor. O problema de representar o outro acaba por se manifestar como elemento estruturante da própria narrativa e manifesta-se a partir da preocupação dos narradores Paulo Honório e Riobaldo em como vão construir suas narrativas, de que forma se dará a relação delas com o mundo literário e como se dará o discurso literário em sua aproximação com a oralidade e com a cultura popular. Portanto, esta dissertação buscará problematizar a literatura como forma de conhecimento, a partir do que ela própria apreende sobre o conflito que se estabelece entre a particularidade do país e a forma ideológica de percepção e relato do mundo, manifestada na estruturação literária, como problema social, histórico, político e estético.
Este trabalho desenvolve algumas reflexões básicas sobre a nova narrrativa latino-americana do ponto de vista da problemática da modernidade, e mais especificamente, dos conflitos fáusticos do progresso. A leitura do Fausto de Goothe serve de pardigma do homem moderno e seus imperativos de progresso, como problemática central da modernidade. No caso da América Latinba se analizam as tensões na formação de sua modernidade, suas manifestações na cultura e a sua transposição na nova narrativa latino-americana. Os romances escolhidos para uma análise detalhada deste assunto são: Pedro Páramo de Juan Rulfo, São Bernardo de Graciliano Ramos, Yo El Supremo de Augusto Roa Bastos e Gramde Sertão Veredas de João Guimarães Rosa. A análise tem três aspectos: a) as relações entre personagens e seu mundo; b) as tensões fáusticas e suas transposições em cada texto; e c) as metamorfoses que se operam nos personagens.
Esta tese propoe-se a analisar o lugar do feminino na narrativa brasileira e se desenvolve, metodologicamente, a partir da leitura interpretativa de cenas ficcionais. Na primeira parte (cena i) procurou-se configurar a cena enquanto uma categoria, atraves da leitura do conto missa do galo, de machado de assis. Na segunda (cena ii) e a cena do suicidio de madalena, em sao bernardo, de graciliano ramos, o objeto de exame. A terceira parte (cena iii) tem a morte de diadorim, em grande sertao: veredas, como nucleo diretor e, por fim, a quarta parte (cena iv) trabalha a cena de amor entre lori e ulisses no romance uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de clarice lispector. Em conclusao, procura-se formular uma topica do feminino segundo o sistema de sobredeterminacao de sua representacao, produzida pelo imaginario masculino e suplementada agora por aquela delineada pelo imaginario da escritora-mulher.
Instituto de Letras, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Programa de Pós-Graduação em Literatura
Este trabalho consiste em um estudo acerca da dialética entre literatura e sociedade no romance regional brasileiro. Diacronicamente, são analisados os romances O sertanejo, de José de Alencar, S. Bernardo, de Graciliano Ramos, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. O objetivo da tese é demonstrar de que modo, ao longo do tempo, os antagonismos sociais próprios do Brasil rural foram transfigurados esteticamente pelos romances cuja matéria se formou na experiência rural brasileira. As pesquisas apontaram que, no cerne desses romances, encontra-se formalizado o conflito entre proprietários e despossuídos, em torno do qual gravitam temas a ele relacionados, como amor, violência, trabalho, liberdade e favor. O embasamento teórico advém da tradição crítica materialista dialética, especialmente Antonio Candido, Roberto Schwarz e Raymond Williams.
A proposta primeira da dissertação Contra a Luz: insônia, prosa de ficção e Graciliano Ramos é a de investigar desdobramentos narrativos do tema da insônia na prosa de ficção da primeira metade do século XX. O primeiro capítulo, de um lado, traça um panorama histórico-literário da insônia da Idade Média ao século passado e, de outro lado, propõe algumas considerações de cunho psicanalítico sobre o tema. Pretende-se, assim, estabelecer alguns argumentos-chave que se desenvolverão ao longo dos capítulos subseqüentes, a saber: o de que a escuridão e o vazio noturno são altamente propícios à concentração na reflexão em detrimento da ação e que, portanto, possibilitam uma excepcional exploração da subjetividade dos personagens em questão. O segundo capítulo pensará tal situação no contexto da prosa de ficção moderna, a partir de breves estudos das obras Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust; Livro do desassossego, de Fernando Pessoa (sob o heterônimo Bernardo Soares); “Funes, o memorioso”, de Jorge Luis Borges; e “Buriti”, de João Guimarães Rosa. Assim, serão expostas as maneiras pelas quais, nessas obras, as cenas de insônia mostram-se essenciais tanto à proposição de uma reflexão sobre a própria construção da narrativa, quanto permitem o aprofundamento psicológico dos personagens e o experimentalismo formal. Estes dois eixos permearão a Parte II da dissertação, que terá por foco a obra de Graciliano Ramos. O terceiro capítulo analisará a insônia do personagem Paulo Honório, no romance S.Bernardo, em relação à composição da narrativa feita por ele em suas noites em claro. O quarto capítulo, dedicado ao romance Angústia, investigará a instalação de um clima angustiado e de experimentações narrativas a partir das noites insones de Luís da Silva. Por fim, o quinto capítulo, abordando os contos “Insônia” e “O relógio do hospital”, traçará algumas conclusões sobre a função da insônia no estilo de Graciliano Ramos, e proporá também algumas considerações finais acerca de toda a dissertação.
Entre as narrativas que têm o sertão como espaço e o sertanejo como tema três, particularmente, ganham destaque: Vidas Secas e São Bernardo, de Graciliano Ramos, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Considerando que essas narrativas encenam o percurso sócio-histórico-político brasileiro e figuram o processo de "modernização conservadora" do país, a presente comunicação apresenta os resultados de uma pesquisa em andamento que busca analisar a trajetória do sertanejo na Literatura Brasileira do século XX, centrando o foco nas narrativas de Graciliano Ramos e na de João Guimarães Rosa. A comunicação expõe, e requer a discussão, de três movimentos na representação do sertanejo. No primeiro ele é quase um personagem coletivo, é o caso da família de retirantes de Vidas Secas; no segundo, como em um caminho "socialmente evolutivo", desvencilha-se de seu grupo e toma posse de palavras e terras, porém, emperra, como demonstra a análise do crítico João Luiz Lafeta, "O Dínamo Emperrado",
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