Objetiva-se neste estudo realizar uma análise comparativa acerca da linguagem como elemento de transformação do homem nos contos A menina de lá, do escritor brasileiro do segundo quartel do século XX João Guimarães Rosa, e A menina sem palavra, do escritor Moçambicano Mia Couto, artista e pensador contemporâneo. A abordagem aqui proposta parte do pressuposto de que ambos os contos discutem linguagem, comunicação e infância a partir de um olhar muito perspicaz, no qual a palavra assume o papel de força transformadora, ressignificando a própria ideia de comunicação e contribuindo para a humanização das relações sociais.
Este trabalho analisa os contos "A menina de lá" e "Um moço muito branco" de João Guimarães Rosa e objetiva demonstrar o diálogo que o enunciador rosiano estabelece com o discurso mítico, perceptível na estrutura dos dois contos. Para isso nos valemos das relações que Calame (1986) estabelece entre o discurso mítico e cada um dos diferentes níveis do percurso gerativo de sentido da semiótica francesa.
Este trabalho apresenta a análise comparada dos contos A menina de lá, de Guimarães Rosa e O rio das Quatro Luzes, de Mia Couto que giram em torno de uma mesma temática. Ambos mostram a morte sob a perspectiva de uma criança, apresentando facetas surpreendentemente interessantes para os leitores, por meio de construções miméticas que fazem fantasiar e refletir sobre as maneiras como lidamos com o fim. Assim, no trabalho que se segue buscaremos avaliar os elementos que permeiam a vida e o inesperado desejo de morte de um menino e de uma menina em dois contextos distintos. São narrativas que levam o leitor a ponderar de que forma a morte pode ser poética, ainda que acometendo crianças. Além disso, o leitor é impelido ao aprofundamento de suas próprias experiências relacionadas à temática e convidado a aprimorar sua compreensão do mundo infantil e da morte. Desta forma, nos contos dos dois autores temos a possibilidade de perceber a morte sob o olhar de duas crianças em diferentes contextos e perspectivas sociais. E a partir dessas construções traçar algumas reflexões a respeito da morte, sua representação e a maneira como é encarada pelas personagens infantis nas narrativas.
Como se constata no ato da leitura de variadas obras literárias, o homem vivencia emoções diversificadas e intensas, as quais podem ser capazes de marcar e, muitas vezes, modificar sua visão de mundo. Nesse sentido, Candido (1995) afirma que, assim como não é possível ter estabilização psíq uica sem o sono, talvez não exista equilíbrio social sem a literatura, pois esta é fator indispensável de humanização, pelo fato de atuar em grande parte no subconsciente e inconsciente do homem. Seguramente, as emoções suscitadas na recepção da literatura pelo ser humano são de responsabilidade da fantasia e da ficcionalidade dos elementos textuais. Entre os gêneros literários existentes, que, certamente, incorporam ficção e fantasia em sua estrutura, Todorov (1975), em suas pesquisas, defende a literatura fantástica, a qual se apresenta como vacilação experimentada por um indivíduo que não conhece mais as leis do mundo real, perante um fato aparentemente fantástico. Desse modo, com base em nossas experiências de leitura, é possível verificar que determinadas obras literárias incluem em suas estruturas o fantástico, cuja variação poderá estar entre o estranho e o maravilhoso. Diante dessa complexidade, conclui-se que as narrativas fantásticas não podem, simplesmente, ser classificadas e rotuladas como tal, sem a devida consideração artística, mas é indispensável, como em qualquer outro tipo de arte, considerar suas variações, estilos e intenções de produção. Pensando nisso, nesta pesquisa, propõe-se a análise do conto “A menina de lá”, de autoria de Guimarães Rosa, a fim de verificar as perspectivas insólitas presentes nessa obra e como as mesmas são organizadas textualmente. Assim sendo, apresentaremos uma análise minuciosa do conto, destacando o sobrenatural e como ele se configura na narrativa e quais seus possíveis significados.
Propomos a seguinte questão: “Será o Homem um ser de linguagem que só existiria a partir do momento em que conseguisse estabelecer uma comunicação com o Outro e com o Universo ao seu redor? No conto “A menina de lá”, que integra a obra “Primeiras Estórias”,nos deparamos com uma complexa personagem idealizada por João Guimarães Rosa. Trata-se da Nhinhinha – uma menina com menos de quatro anos de idade-, que nos revela a dificuldade da criança diante da necessidade de comunicar-se. Neste conto de João Guimarães Rosa, a personagem principal personifica a relação da criança com o poético. Esta relação entre criança e poesia pode ser constatada em várias instâncias. É imprescindível ainda levarmos em conta como uma criança processa as suas próprias reflexões e nos aprofundarmos em sua forma de raciocínio, apreensão e expressão destas.
Este trabalho propõe um exame comparativo do tema da infância e dos aspectos formais que ligam as narrativas “A menina de lá”, de Guimarães Rosa e “As flores de Novidade”, de Mia Couto. Para esse fim, o presente estudo traça como seu objetivo a compreensão das crianças e das linguagens poéticas criadas em língua portuguesa de Brasil e Moçambique sendo agentes de beleza e de sonho em períodos conturbados no Ocidente, como os anos da Guerra Fria e dos combates civis pós-libertação. Sendo composto por uma pesquisa bibliográfica, esse trabalho, volta-se para o exame das aproximações estéticas que fazem da literatura produzida pelo autor de Terra sonâmbula (1992), uma continuação das propostas lançadas pelo autor de Sagarana (1946). Frente ao exposto, pretender-se-á identificar os elementos componentes das narrativas e os pontos de convergência na infância, com base nos estudos de Bosi (2003); Rónai (2005), entre outros. Ao delimitar o estudo dessas obras, Rosa e Couto inserem-se no espaço das chamadas shorts estories. Logo, obtêm-se, entre outros resultados, a constatação de que esses grandes observadores-participantes das histórias contemporâneas de seus países estabelecem as personagens infantis como as únicas responsáveis por preencherem com os seus dons, o jardim do mal que configurou-se em grande parte do século XX.
Este artigo pretende fazer uma leitura da personagem “Nhinhinha”, do conto “A Menina de lá”, de Guimarães Rosa (1972), sob o viés da figura da personagem fada. Tal narrativa faz parte do livro Primeiras Estórias do escritor mineiro. Para complementar o estudo em relação à imagem da fada, este trabalho pretende analisar outra narrativa de Rosa (1970), o conto “A Caça à Lua”, que faz parte do livro Ave, Palavra e que apresenta também, como personagem, uma menina que remete tanto à própria “Nhinhinha”, como à figura da fada, criatura maravilhosa do imaginário popular, presente em várias narrativas tradicionais. Esta leitura recorrerá a escritos teóricos de J.R.R.Tolkien (2015), Italo Calvino (2010), Kátia Canton (1994), além de trazer postulações teóricas de Maurice Blanchot (2011) acerca do espaço literário de magia, do imaginário e do lugar da infância. Pontuações de Giorgio Agamben (2007) também serão evocadas para analisar afigura da fada como uma ajudante, ou seja, uma personagem de auxílio, que proporciona outra visão em relação ao olhar cotidiano. Outras postulações teóricas serão levantadas em relação à personagem fada, oriundas da mitologia céltica e dos contos de fadas tradicionais, para entender a forma fluida entre vida, morte, magia, encanto e estranhamento, que as personagens dessas meninas apresentam nas narrativas de Rosa.
O presente artigo tem como proposta explanar sobre a configuração doreal maravilhoso, levando em conta o que Alejo Carpentier define como peculiaridadedesse tipo de narrativa: a sua vinculação a uma cultura, a da América. Para tanto,partimos de uma narrativa, “A santa”, de Gabriel García Márquez, que tem comomote o enfraquecimento do real maravilhoso em função do deslocamento espacial– da América Latina para a Europa. O trabalho analítico também enfocará o conto “Amenina de lá”, de João Guimarães Rosa. A base teórica é a teoria de Carpentier sobreo real maravilhoso.
Com base nos apontamentos feitos por Luiz Tatit nas análises realizadas em seu livro Semiótica à luz de Guimarães Rosa, e também em outros textos seus, nosso intuito é o de examinar e descrever a configuração tensiva que subjaz ao conto “A menina de lá”. Interessa explicitar as operações sintáxicas que estão na base da estruturação narrativa e discursiva da trama e que, por isso mesmo, respondem pela sua força de convocação sensível-inteligível. Ao que nos parece, por meio da construção das personagens dessa narrativa, Rosa traz valiosas contribuições acerca das condições que regulam a interação entre os sujeitos.
O presente estudo tem como objetivo verificar como a morte, considerada um momento limítrofe para a existência humana no contexto ocidental, se apresenta sob uma espécie de encantamento na narrativa rosiana. Para compreender as tensões que perpassam o campo de presença do sujeito que se depara com a finitude, apresentamos uma análise a partir dos estudos da semiótica tensiva de Zilberberg, que concilia muitas das contribuições da fenomenologia de Merleau-Ponty junto com os postulados de uma semiótica de cunho estruturalista de Greimas. Acreditamos que é a partir dos conteúdos sensíveis que podemos compreender melhor os contos rosianos.
O presente trabalho busca estabelecer aproximações entre as obras do brasileiro Guimarães Rosa e do português Miguel Torga, ambos do século XX. A partir de estudos críticos, como as análises de Walnice Nogueira Galvão, Antonio Candido, Benedito Nunes, Massaud Moisés, Cid Seixas, entre outros, apresentam-se as noções de regionalismo e universalismo que perpassam as obras de ambos os ficcionistas. Através de uma análise intertextual dos contos "A menina de lá" e "O cavaquinho", analisar-se-ão como as personagens-crianças fazem parte de universos distintos de infância. Pretende-se, assim, estabelecer um cotejo entre os contos em questão, apresentando semelhanças e distinções neles presentes, no que tange aos temas e aos procedimentos utilizados.
A busca constante da transformação do modo de ver o mundo faz da obra de Guimarães Rosa uma grande paideia, que incita o jogo do devir, o jogo de atravessar, o jogo das metamorfoses contínuas e comuns de toda forma de vida. O narrador rosiano põe o leitor em constantes rupturas da lógica e dos pragmatismos humanos, a fim de descontruir a automatização dos homens e do mundo. Assim, neste trabalho, o que se objetiva estudar é a representação das personagens rosianas em busca de sua construção como indivíduos, especialmente no que tange à sua nova compreensão do amor e da alegria, o que se pode verificar em contos da obra Primeiras estórias, e que em última análise pode ser visto como uma nova proposta de construção interior para o homem, diante de sua realidade.
Em 1996, em uma de suas raras entrevistas, Guimarães Rosa enfatiza a importância da decifração de “A menina de lá” como fonte para iluminar o restante de sua obra. A crítica rosiana menciona, amiúde, o empréstimo transculturado que Rosa faz de textos poéticos, filosóficos e religiosos pertencentes ao patrimônio da humanidade. Esse artigo parte da premissa de que “A menina de lá” está escrito sob forma de um polissêmico koan, no qual se medita sobre o significado da morte em culturas asiáticas. Busca-se rastrear a convergência, por meio de desdobramentos especulares, entre a protagonista Nhinhinha e esse outro personagem de ficção narrativa, qual seja, João Guimarães Rosa. Para tanto, parte-se da história e das características próprias ao gênero literário “koan” e de aspectos da tradição budista, para interpretar um feixe de traços religiosos que simbolicamente marcam os demais personagens. Em última instância, este estudo destina-se a desentranhar elementos para interpretação do último capítulo aberto em koan por Rosa: sua enigmática morte ocorrida três dias depois da posse na Academia Brasileira de Letras.
Procuramos demonstrar, neste trabalho, que, apesar dos limites inerentes a qualquer sistema de signos, é possível burlar as regras impostas e dar vazão ao pensamento. Para tanto, foram escolhidos textos de linguagem de laboratório em dois contos de João Guimarães Rosa e exemplos de economia de linguagem na obra de Carlo Emilio Gadda, Il Primo Libro delle Favole.
Este ensaio possui como objetivo realizar uma análise de ordem comparatista, entre os contos A menina de lá e As margens da alegria, ambos de Guimarães Rosa, e Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Por meio da observação acerca de como se dá a crítica social reflexiva entre narrativas compostas em diferentes contextos culturais, procura-se estabelecer, nesse processo, um possível diálogo entre as diferentes expressões literárias. Para tanto, parte-se, primeiramente, das semelhanças entre os enredos, tais como o gênero; assim como a constituição da consciência dos personagens, inseridos em âmbitos sociais de cunho utópico/distópico. Pontua-se também as peculiaridades de ambas, como o enredo e a linguagem utilizada, que ressaltam as particularidades de cada obra literária, marcando o contexto sócio-histórico; permitindo uma melhor compreensão do texto literário e uma ponderação acerca da construção do efeito de sentido do mesmo, enquanto gerador de questões críticas e reflexivas.
O conto “A menina de lá”, de Guimarães Rosa, aparentemente, nos evoca uma leitura recorrente em relação à obra rosiana: um estudo centrado na presença de elementos mágicos no texto. Entretanto, acreditamos que o conto deixa à mostra como uma situação comum pode ser construída como extraordinária tanto por parte dos personagens quanto por parte do narrador da história. Na narrativa, há uma mescla de elementos religiosos e de fábulas que são acionados para entender a fala e as ações da protagonista Maria, chamada de Nhinhinha. Os personagens do conto apostam numa chave de entendimento do comportamento da menina - ela faria milagres-, embora percebamos que todos os episódios vistos como milagrosos, na realidade, poderiam ser pensados também como eventos comuns, se atentarmos à própria mescla de fábulas e religião a que o imaginário infantil está exposto. Guimarães Rosa explora, nesse conto, a potência dos eventos comuns e as diferentes formas de lidar com eles.