Estratégias de representação cultural da velhice formam nosso foco analítico de três contos de Sagarana, de Guimarães Rosa: O burrinho pedrês, São Marcos e A hora e a vez de Augusto Matraga. Este universo ficcional está vinculado à produção cultural, observada como extensão criativa e crítica da sociedade que lhe funciona como base e fornece elementos múltiplos e heterogêneos para a produção de identidades transversais.
Este artigo tem três objetivos. Em primeiro lugar, busca analisar o papel decisivo desempenhado pela canção popular na composição do projeto literário de Guimarães Rosa. Em segundo lugar, pretende apontar, ao menos em parte, algumas das razões que ajudam a entender a afinidade do compositor popular brasileiro com a obra de Guimarães Rosa. Em especial, o artigo procura compreender o impacto que a leitura da obra de Guimarães Rosa imprimiu na sonoridade elegante e sofisticada das composições de Tom Jobim ? sobretudo, nos dois discos autorais produzidos na primeira metade da década de 1970, Matita Perê (1973) e Urubu (1975). Por último, este artigo arrisca uma hipótese: a existência de uma longa e venerável trama de vínculos entre a literatura e a canção popular brasileiras.
O presente artigo trata da questão da personificação dos animais em alguns contos de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, analisando a importância e a finalidade desse recurso nas obras, bem como a forma como é explorado. O estudo busca também comparar os textos selecionados, apontar ou identificar as características das fábulas, tendo como base o conceito desse tipo de texto, e verificar se a forma como os autores utilizam essa estratégia influencia o fator de verossimilhança das obras. Além disso, serão abordadas a simbologia de alguns elementos encontrados nas narrativas, sua relação com o enredo e a oposição zoomorfismo X antropomorfismo como fator importante para evidenciar as características psicológicas dos personagens.
O presente trabalho concentra-se na análise de como, através dos elementos
narrativos, como narrador, personagens e historia, Guimarães Rosa constrói o tema da justiça em contos de Sagarana. Embora toda a coletânea seja levada em consideração, demos ênfase no estudo de: "O burrinho pedrês", "Duelo", "São Marcos", "Corpo fechado", "Conversa de bois" e "A hora e vez de Augusto Matraga". Percebemos que a justiça construída nos contos tem sempre duas formas de manifestação: a justiça humana e a justiça divina, que rege todos os acontecimentos das histórias.
Este trabalho tem como objeto de estudo os contos de Sagarana. primeiro livro de Guimarães Rosa, publicado em 1946, que marcaria definitivamente a literatura brasileira, uma vez que nos deparamos com a construção de uma nova linguagem, em que a Língua Portuguesa surge recriada através da associação de uma linguagem culta ao falar sertanejo, sempre com uma sensibi1idade que funde num conjunto inédito: arcaísmos, neologismos, expressões regionais e a linguagem literária propriamente dita. Dentre os nove contos que compõem a obra, selecionaremos os seguintes, para serem analisados: "O Burrinho Pedrês" , Traços Biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo , São Marcos" e A hora e vez de Augusto Matraga". Entre as hipóteses que organizam e fundamentam o fio condutor deste trabalho, abordaremos a estética das narrativas, o processo criador e a oralidade, ou seja, como Rosa traduz esse mundo da oralidade, recuperando a fala arcaizante na construção de sua narrativa escrita. Utilizaremos no desenvolvimento das questões propostas e desenvolvidas nesta pesquisa, o raio de abrangência vinculado ao suporte teórico da Paul Zumthor, Câmara Cascudo, Sílvio Romero; Antonio Candido e Alfredo Bosi, entra outros. Veremos, portanto, no decorrer das narrativas, como são empregadas as expressões populares que lhe dão origem. Serão destacadas, nesse processo, citações que demonstram a presença dos costumes do povo, traduzidos por intermédio de quadrinhas, cantigas, lendas, mitos, anedotas e provérbios. Dessa forma, veremos que as manifestações da cultura popular falarão por si, e o pensamento rosiano se fará conhecer através da arte da linguagem utilizada para o leitor do texto. Veremos a vivência do povo transmudada para a arte.
A constituição humorística de Sagarana (1946) fornece a base desta tese de doutoramento, em Literatura Brasileira. Assim, tem-se como corpus de análise contos desta obra do escritor João Guimarães Rosa (1908 1967), e, embora privilegiando-a como um todo, no conjunto de suas nove narrativas, foram selecionadas três delas para análise e composição dos capítulos deste estudo, a saber: O burrinho pedrês, Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo e Corpo fechado. A abordagem estabelece a intersecção de duas vertentes de constituição e construção da obra: uma, no plano formal, corresponde aos recursos expressivos de comicidade, realizados através de procedimentos de humor, ironia, paródia, sátira, e outros. Para tanto, a fundamentação teórica centra-se, basicamente, nas reflexões de autores como Bergson, Propp, Pirandello, Freud. A outra, no plano temático, orienta-se pela representação da sociedade plasmada nas narrativas e a correspondência desta representação com a realidade nacional, como relações de poder, de violência, de submissão, instituições de Estado, e outros. Críticos do autor que realizaram abordagem sob tal enfoque foram selecionados como referência. A investigação revelou, finalmente, que nesta obra seminal do autor mineiro já se configuravam as linhas mestras de um projeto literário e uma visão de mundo, perpassados pelo humor. E mais, sob a leveza do véu humorístico, o autor realiza profunda reflexão acerca da sociedade (brasileira), do mundo e do homem (humano).
Centro de Humanidades, Departamento de Literatura, Programa de Pós-Graduação em Letras
João Guimarães Rosa definia-se como um homem do sertão e mostrava-se fortemente ligado à terra. Ao longo de sua monumental obra encontramos densos registros sobre essa ligação. Em 1965, revela em entrevista a Gunter W. Lorenz seu peculiar interesse por animais, diplomacia, religiões e idiomas. A biografia do escritor não se dissocia da obra. Dessa forma, evidencia-se em O burrinho pedrês e Conversa de bois - o tratamento conspícuo dispensado aos bichos. Assim sendo, procederemos a um exame das referidas novelas de Sagarana tendo como escopo a estreita relação do homem com a natureza e, mais detidamente, com os animais. Para tanto, utilizaremos textos teóricos que versem acerca da inserção humana em ambiente natural - entre eles os de Leonardo Boff e Nancy Mangabeira Unger - e literários - mitos gregos e latinos e lendas indígenas. Veremos ainda que as novelas selecionadas para análise apresentam crianças e animais. Esses seres interligam-se e vivenciam a atuação de forças sobre-humanas em suas vidas. Ao longo do trabalho relacionaremos ao tema de nossa pesquisa os desdobramentos da autodefinição de Rosa supramencionada em sua existência (infância em Cordisburgo, vida doméstica no Rio de Janeiro, viagens ao exterior e ao interior de Minas Gerais, passeios) e obra (novelas de Sagarana, sobretudo).
Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária
Esta pesquisa vislumbra um estudo da narrativa de “O burrinho pedrês” de Guimarães Rosa, sob a luz do seu projeto de escrita denominado Platform. O projeto delimita-se por meio da análise das correspondências trocadas com seus tradutores, de entrevistas e de depoimentos dados pelo escritor. Nele se reflete uma linha de pensamento que orienta e direciona seus tradutores para uma tradução mais livre (CARVALHAL, 1993), cujos aspectos essenciais seguem o mesmo caminho percorrido pelo escritor na criação de seus textos. Essas concepções são rastreadas na narrativa do burrinho, que se apresenta como pórtico da primeira obra de peso do escritor e de sua produção em prosa, configurando seu caráter inaugural, dentro de um panorama nacional que corresponde à terceira geração do Modernismo no Brasil (CANDIDO, 1989). Entre outros aspectos, são destacados os traços que o texto apresenta e que o aproxima dos contos maravilhosos (COELHO, 1987), tema também discutido por Wladimir Propp (1984); do fantástico (TODOROV, 2008); e da narrativa artesanal (BENJAMIN, 2012). Para se ratificar o caráter experimental e híbrido do conto, o estudo ainda atenta às relações macro e micro, no nível estrutural e temático entre a narrativa central e as mini-narrativas. Todos os fatores levantados contribuem para a visualização do campo analógico criado entre a vida dos homens e a dos animais e fomentam uma possível leitura da obra.
Um elemento mágico e impulsionador, o qual faz fluir uma história plena em verossimilhança, coerência, mediante fatores "cadenciados", os quais revelam a preocupação do autor em colocar na sua criação aspectos elaborados com um esmero singular. Neste trabalho, procurar-se-á expor algumas percepções de leitura e relatar, possíveis modos de travessia(s) literária(s), cuja via será "O burrinho pedrês", primeiro conto/novela da obra "Sagarana", de João Guimarães Rosa. A abordagem seguirá à luz de pressupostos teóricos de autores como: Roland Barthes, Ítalo Calvino, Ângela Leão, dentre outras/os.
Pretendo apresentar a pesquisa que estou desenvolvendo sobre a questão animal em duas narrativas de Guimarães Rosa: “O burrinho pedrês” e “Conversa de bois”, publicadas em Sagarana. Em ambas, prevalece o ponto de vista dos animais sobre o mundo e sobre si mesmos. Nesse sentido, por meio da composição da interioridade de personagens animais e também da valorização de diferentes vozes discursivas, as duas narrativas despertam uma reflexão sobre a problematização das categorias de “humanidade” e “animalidade”, estabelecidas pela ciência e pela filosofia ocidentais. Portanto, a partir do estudo sobre a construção da escrita de Guimarães Rosa, proponho uma investigação sobre a questão animal emerge nas histórias selecionadas para o corpus dessa pesquisa. Para tanto, busco um diálogo com os textos de Maria Esther Maciel, bem como de Derrida, Montaigne e Jakob Von Uexkull, reconhecendo suas diferenças teóricas e considerando as contribuições que possam sustentar outras formas de pensar o animal, sobretudo na cultura do sertão roseano. Dessa forma, procuro evidenciar que a literatura em Sagarana “abala” a noção de “humanidade” como algo que se afasta da condição animal.
Tendo como corpus os contos Meu tio Iauaretê e O Burrinho Pedrês, de João Guimarães Rosa, pretendo apresentar o andamento de minha pesquisa sobre a representação de personagens literários em condição de humanização e/ou animalização. O estudo terá como fio condutor a análise sobre a “linguagem” e o “pensamento” como critérios determinantes para essa condição, tendo em vista o meu interesse em identificar os aspectos ou as circunstâncias que estabelecem a fronteira entre o humano e o animal. Para tanto, com a contribuição teórica de Norbert Elias e de Starobinski, proponho problematizar o conceito de civilização cuja definição está estritamente correlacionada a padrões de comportamento e à distinção social. Nesse sentido, procuro sustentar a possibilidade de que a fala organizada (bem como determinadas variações da língua) está associada a uma forma articulada de pensamento e, por isso, torna-se critério civilizatório e de humanização. Paralelamente a essa perspectiva, recorro às discus
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