No presente artigo analisamos o conto "Substância" de "Primeiras Estórias". Nossa atenção concentra-se nos pares de contrários eu/outro, masculino/feminino, razão/emoção, repouso/movimento que no final do conto são harmonizados. A problemática dos contrários preocupou o homem desde seus primórdios. Assim, já a encontramos nos mitos primitivos, nos primeiros filósofos gregos, como em Heráclito, por exemplo. Modernamente, os contrários ocuparam a atenção de Hegel em sua dialética e a de Jung em sua psicologia, levando-o a voltar-se para a mitologia. Em nossa análise, portanto, serão recorrentes as referências à mitologia, à filosofia e à psicologia junguiana. O título do artigo é tomado de empréstimo ao próprio conto que ora consideramos. Propositalmente escolhemos este sintagma, "um-e-outra", já que nele temos dois pares de contrários: eu/outro, masculino/feminino que são harmonizados, formando assim uma só substância.
Analisam os a narrativa fílmica de Pedro Bial Outras estórias que retoma cinco contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. O enfoque da análise são os motivos casamento e velório, que figurativizam os valores universais vida/morte, e o espaço do sertão. A partir desse recorte, propomos uma leitura que pretende demonstrar como o texto de Bial constrói a Cinderela do sertão mineiro.
Este estudo tem como objetivo discutir o processo de construção do vínculo amoroso/conjugal por meio da análise do conto Substância, do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, publicado em 1962, compreendendo a influência da escolha amorosa no modo de subjetivação das personagens principais, Sionésio e Maria Exita. O conto foi discutido em profundidade a partir de uma leitura psicanalítica sobre a conjugalidade e a transmissão psíquica intergeracional. Os laços afetivos de Maria com sua família são marcados pela negatividade, ancorados pela possibilidade de transmissão de tradições pecaminosas, transgressoras e mórbidas. Com o passar do tempo, ela vai deixando de ser uma menina franzina para se tornar uma bela mulher, despertando o amor de Sionésio. A partir do momento em que este se permite olhar para a essência de Maria Exita (ou a sua substância, para além do polvilho), são criadas as condições para que ocorra o encontro amoroso, que irá preencher o vazio da vida de Sionésio. As memórias e medos que os assombravam são mitigados pelo alvor do polvilho macerado na laje, em um processo de transformação da substância que une o casal: o sentimento amoroso. Assim, a conjugalidade ocupa um importante papel na transformação identitária dos personagens, alcançada pelo reconhecimento do outro como disparador do movimento de reorganização psíquica.
O livro Primeiras Estórias (1962) do escritor Guimarães Rosa é formado de 21 narrativas. Interpretando cinco contos de Primeiras Estórias, "Famigerado", "Soroco, sua mãe, sua filha", "Os irmãos Dagobé", "Nada e a nossa condição", "Substância", o diretor de cinema Pedro Bial compõe o filme Outras estórias (1999). Comparando esses textos verbais de Guimarães Rosa com o filme de Pedro Bial, ressaltaremos os mecanismos discursivos que constroem Maria Exita: a Cinderela do sertão rosiano.
Este trabalho pretende apontar características temáticas e estilísticas do conto “Substância”. Tal análise será empreendida a partir de fragmentos da obra nos quais se poderá observar a presença de traços típicos da terceira geração do Modernismo (geração de 1945) unidos à estética inovadora de Guimarães Rosa – autor consagrado como um dos maiores nomes da Literatura Brasileira. Nesses excertos, explorar-se-ão possíveis significados da cor branca, a qual, sem dúvida, levará à temática do conto; além disso, pretende-se analisar a linguagem rosiana, que é expressiva e simbólica, para retratar um mundo sertanejo recriado pela expressão literária, mítico e metafísico.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
Eros engendra o universo mitopoético de Guimarães Rosa. A força emancipatória do mito se apresenta como princípio norteador da ficção rosiana. Entendido como agente do processo cosmogônico, vincula corpo e alma com a vitalidade cósmica e criadora da natureza, aproxima linguagem e ser, fundamenta com o poder formativo da palavra um novo sertão e consagra a grandiosidade da vida em constante recomeço. Ele rompe com a tradição patriarcal da sociedade ocidental e contraria a figura divina que, comumente, o caracteriza como interventor na dinâmica familiar e na ética social, sentimento que gera deleite e sofrimento, oposição entre prazer e dever, coerção ou ameaça, impulsionador de atitudes insanas ou inconsequentes, desejo insaciável, sujeito em busca do objeto ou deus absoluto do Olimpo. Nas narrativas do escritor, assume a orquestração tensa e harmônica de contrários que não se excluem, na riqueza de timbres que compõem o viver. Esta tese propõe o viés amoroso como importante possibilidade de diálogo com a tessitura literária de Rosa. A base das discussões prioriza a regência de Eros em imagens poéticas ligadas ao olhar, que evidenciam o irromper do inaugural e miram a invisibilidade de todo ver. Olhar arrebatado por Eros, cria, recria, deforma e transforma imagens porque se insere na dinâmica das metamorfoses. Grande sertão: veredas constitui o núcleo irradiador das reflexões. "A estória de Lélio e Lina", "Substância", "Dão-Lalalão" e "Buriti" contribuem para complementar e confirmar a abrangência de Eros no projeto poético do autor. A elaboração estrutural da obra rosiana suscita uma declaração de amor à vida e uma celebração da potência genesíaca do mais belo dos deuses.
Esta dissertação trata da análise, do ponto de vista literário, da tradução intersemiótica/adaptação cinematográfica de cinco contos do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa: "Famigerado"; "Os irmãos Dagobé"; "Sorôco, sua mãe, sua filha"; "Nada e a nossa condição"; e "Substância", que compõem o enredo do filme Outras Estórias (1999), do jornalista e diretor Pedro Bial. Trata-se de um estudo comparativo de cada um dos contos a partir das análises literária e cinematográfica, bem como da interseção das duas linguagens. Destacam-se as características da linguagem verbal escrita e as soluções encontradas para a reescrita no suporte verbal e imagético, através da opção de montagem de um único enredo composto pelos cinco contos.
Na obra de João Guimarães Rosa, a loucura não é apenas um tema recorrente. Os loucos apresentam-se intimamente relacionados à poética do autor, são detentores de sabedorias que superam o campo estritamente racional, são seres ligados ao mundo profético, à poesia, à criança e a todos os elementos que simbolizam o homem criativo. A partir de uma das sagas de Corpo de baile e de algumas das estórias que compõem a obra Primeiras estórias, este trabalho propõe um estudo de personagens que vivem à margem da razão, de modo a entender a singularidade do desatino rosiano.
O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
Este estudo apresenta algumas reflexões sobre o amor, em três estórias de Guimarães Rosa - "Substância", "Dão-Lalalão" e "Luas-de-mel". Ao mesmo tempo em que mantêm a sua autonomia, há uma profunda intedependência entre elas. Dentro de um universo de diferenças, cada uma se explica junto às outras. Essa integração corresponde a uma vertente do projeto de amor rosiano - manter a diversidade na unidade. A leitura proposta observa que o amor propicia transformações existenciais que ocorrem durante profunda viagem à interioridade dos personagens. Esse processo de metamorfose acontece diante de um tempo descontínuo, porém, circular. Nesse movimento, a natureza se une às mudanças dos personagens e se torna epifânica. Essas estórias mostram que Eros ultrapassa a visão dicotomizada e excludente entre lógico ou alógico, corpo ou alma. Elas propõem o amor envolvendo corpo e alma, razão e desrazão. Nelas, o amor se concretiza na transcendência e permite que o ser esteja em constante movimento de inaugurar a vida a cada instante, se descobrindo e descobrindo o novo e colocando-se por inteiro na aventura do viver.
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