A proposta é uma leitura a ristoté lico-psicanalítica do conto "O homem do Pinguelo" de 'Estas estórias' de Guimarães Rosa. Com efeito,este texto agencia os temas de identid ade e alteridade, de sorte e destino,de solidariedade e de desejos humanos. Parte-se das categorias deanagnorisis (reconhecimento = " passagem do ignorar ao conhecer") ede peripécia ("inversão da ação no sentido con trário") presentes na poética de Aristóteles, e chega-se à articulação entre identidade e destino,tão decisivos nesse conto. Recorre-se também à Antropologia Psicana líticapara elucidar alguns motivos folclóricos que pontuam o texto, sobretudoa apotropaica figura do "H omem do Pinguelo", que traz sorte.E finalmente, aponta-se o procedimento caro a Guimarães Rosa, de revestirde dignidade trágica a vida dos homens do povo, dos rudes sertanejos.
Partindo da hipótese de que, nos contos semi-acabados desse livro de Guimarães, revelam-se mais explicitamente certos mecanismos da narração, através dos quais se evidencia o confronto entre as chamadas culturas erudita e popular, o texto se propõe a investigar os modos de narrar empregados para identificar as ambigüidades do confronto cultural aí dramatizado, o que nos permitirá problematizar a proverbial adesão do autor (real e implícito) aos valores da cultura sertaneja.
Objetiva-se apresentar leitura do conto "A Estória do Homem do Pinguelo", de Guimarães Rosa. Trabalhar-se-á o papel da alteridade na constituição da identidade, seja no que diz respeito aos narradores presentes no conto, seja no que diz respeito às personagens. Concluir-se-á que, em "A Estória do Homem do Pinguelo", o conhecimento da alteridade conduz à conquista da identidade, podendo, a partir deste conhecimento, melhor efetivarem-se os desígnios já determinados pelo destino. Alcançar-se-á, pois, o vínculo do conto com o trágico.
A tese se dedica à escrita de Guimarães Rosa sob a perspectiva da inarticulação: atenta às ocasiões em que a língua é levada a seu limite intensivo, ao se deixar atravessar sobretudo por vozes animais (grunhir, uivar, grasnar, piar, balir, sibilar, chiar, etc.), ruídos naturais (vento, água, fogo, etc.) e pelo registro musical. Explorando os modos singulares com que Rosa trabalha sonoridades investidas de forças anárquicas e criadoras, o estudo mostra que um dos traços mais relevantes em sua obra é trazer à tona a experiência de inarticulação da linguagem. Tal experiência manifesta-se como lugar privilegiado de desestabilização das fronteiras habitualmente pressupostas entre o que se convencionou chamar, de um lado e de outro, língua e vida - revelando o corpo material da língua como condição irredutível para que se descortinem vínculos intensivos com as coisas através da literatura. O pensamento contido na própria forma como Rosa trabalha a sua língua é posto em diálogo com as reflexões de Gilles Deleuze/Felix Guattari sobre a língua intensiva, e com as considerações de Friedrich Nietzsche acerca da experiência dionisíaca da música. Assim orientada, a tese se compõe de três ensaios. O primeiro aborda a inarticulação da língua na novela Buriti, de Corpo de Baile, em leitura centrada na personagem Chefe Zequiel e nos modos pelos quais sua sensibilidade auditiva prodigiosa capta micro-percepções sonoras da noite e as transfere para uma língua à beira de se tornar guincho, uivo, assovio do vento. O ensaio seguinte mostra o paralelo existente entre o retorno do ruído na música contemporânea, capitaneado pelo músico John Cage, e a invasão da escrita pela infinita gama de sonoridades não dicionarizadas de que se compõe a obra de Guimarães Rosa. Elabora-se ainda, em correlação com a analogia musical aí desenvolvida, uma interpretação da pouco comentada novela A estória do homem do Pinguelo, de Estas Estórias. Por fim, o terceiro ensaio apresenta a aliança entre poesia, música e inarticulação da língua no cerne do projeto literário do escritor mineiro. Oferece-se aí uma visão do processo criativo de Guimarães Rosa como transmutação de forças e afectos presentes nos sons antes da articulação, em uma língua poética em íntimo enlace com a musicalidade. Também se propõem, nessa ocasião, leituras de Cara-de- Bronze, de Corpo de Baile, e de Duelo, de Sagarana.
O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.
A presente tese apresenta uma análise das relações entre três novelas de João Guimarães Rosa e o veículo que lhes serviu de suporte, a revista Senhor, publicada entre março de 1959 e março de 1964. O objetivo é propor uma interpretação de A simples e exata estória do burrinho do Comandante, Meu tio o Iauaretê e A estória do Homem do Pinguelo, que vieram a compor o póstumo Estas estórias, à luz de uma poética cultural, a que vigorou no período da construção e inauguração de Brasília. O discurso cultural que caracteriza a era de Juscelino Kubitschek pauta-se pelas ideias de desenvolvimento, modernização e integração. A revista Senhor é ícone dessa era, e reuniu em suas páginas o que era sinônimo de novidade, sem deixar de ser brasileira. Como ocorre com os textos publicados pela revista, a obra de Rosa compõe parte desse discurso cultural, na medida em que o projeto literário do autor tem o dialogismo, uma forma de integração, como pilar central. Os lugares tanto da revista quanto do autor no campo literário são considerados para se veja neles uma convergência, e para que se os considere como partes constituintes de um mesmo discurso.
Neste ensaio pretende-se retraçar a instalação de inúmeros misturas na obra de João Guimarães Rosa. Na Estória do Homem do Pinguelo essas misturas se possibilitam através do encontro com a própria alteridade nos vários níveis da Estória: na estória narrada, entre os dois narradores, na linguagem e na estrutura. Estão instaladas alteridades recíprocas, seja ela marcada pela oposição nômade/sedentário, rural/urbano, popular/erudito, que para se reconhecer precisam de um mediador, uma terceira posição que age num lugar-entre, um lugar entre as oposições. Um mediador desta Estória é o misterioso Homem do Pinguelo. Com a entidade misteriosa Guimarães Rosa destaca mais uma vez o papel do fantástico na reflexão sobre as questões fundamentais da condição humana.
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